Irreconhecível na foto da capa de seu mais recente disco, Seda pura – o 26º de uma carreira de quase três décadas –, Simone também causa surpresa ao soltar a voz nas dez canções que formam um repertório bem diferente do que aquele a que ela vinha sendo escrava há muitos anos. Sempre lembrada pelas músicas melosas ou por sambinhas anima-festa, a cantora baiana há algum tempo vem podando os exageros e a associação com rótulos bregas. Agora, parece ter chegado ao melhor momento da transformação. Simone nunca havia passeado com tanta elegância, por exemplo, pelo repertório de Cazuza – de quem já tinha gravado Codinome beija-flor e O tempo não pára –, como na faixa que dá nome ao disco, parceria do falecido roqueiro com Roberto Frejat, que empresta um tom grave no dueto com a cantora.

O mesmo estilo ela imprime no atual sucesso das FMs, Cofre de seda, de Rodrigo Leão e do skank Samuel Rosa, e em Garoa, inédita de Carlinhos Brown, na qual a rejuvenescida intérprete realça a curiosa prosódia do compositor e cantor baiano. Contrariando a reclamação quase geral de suas colegas de que atualmente o Brasil vive uma carência de compositores, Simone se mirou em Elis Regina – que sempre apostou em novos nomes – e foi buscar no Maranhão o coco www.sem e o xote Fuga nº 1, ambas de Zé de Riba. E, para não negar totalmente o passado, revisita com emoção contida a romântica Muito estranho (cuida bem de mim), de Dalto e Cláudio Rabello. Sem esquecer, é claro, de Falando sério, de Maurício Duboc e Carlos Colla, famosa na voz do rei Roberto Carlos, que ela já cantava há anos em shows e hoje, em fase cool, brinda o ouvinte acompanhando-se apenas do violão de Marco Pereira e do cello de Jaques Morelenbaum.


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