O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), há muito é comparado com o personagem principal do seriado americano House of Cards. Assim como Frank Underwood, Cunha é um mestre em atuar nas sombras, um profundo conhecedor dos meandros do Congresso e sempre pronto a utilizar os pontos fracos de seus aliados e adversários a seu favor. Nos últimos meses, diante do agravamento político e das reais possibilidades de impeachment da presidente Dilma Rousseff e de seu vice, Michel Temer, houve até quem acreditasse que a vida poderia imitar a arte. Com o afastamento dos dois, Cunha tinha a chance, ainda que improvável, de repetir a façanha do congressista americano que chega à Presidência por vias tortas como na série de TV. Tudo indica, no entanto, que as coisas não serão bem assim. A casa caiu para Cunha.

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OCASO
Ele quer, mas dificilmente se manterá na Presidência da Câmara

Ele terminou a semana soterrado por uma avalanche de evidências de que mantém uma conta secreta na Suíça com quase R$ 10 milhões. Dinheiro que segundo a Procuradoria-Geral da República o parlamentar carioca recebeu como propina no esquema de desvio de recursos bilionários da Petrobras. Como se não bastasse a confirmação do Ministério Público Suíço de ele que mantinha ao menos quatro contas em bancos do país europeu, detalhes de suas movimentações financeiras secretas começaram a vir à tona nos últimos dias.

Sabe-se agora que Cunha abriu uma conta no banco suíço Julius Baer, o mesmo utilizado por diretores da Petrobras para receber recursos desviados da estatal. De acordo com o próprio banco, o presidente da Câmara mantém um saldo de exatos US$ 2,43 milhões. A conta onde esta dinheirama está depositada foi aberta com cópias dos passaportes de Cunha, sua mulher, a jornalista Cláudia Cruz, e uma das filhas do parlamentar. Os três também são os principais beneficiários da tal conta, bloqueada a pedido do Ministério Público da Suíça, que investiga Eduardo Cunha desde abril. Os suíços passaram a desconfiar que os recursos mantidos por ele e por seus familiares tinham origem ilícita.

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A desconfiança tem origem nas investigações do Ministério Público Federal do Brasil. Desde que a Operação Lava Jato foi deflagrada, o nome de Eduardo Cunha tem aparecido com insistente freqüência. Ele foi denunciado por um dos operadores no esquema de corrupção na estatal, o engenheiro João Augusto Rezende, de ter recebido ao menos US$ 5 milhões em propinas. Seu nome veio à tona também nos depoimentos do ex-consultor da Toyo Setal, Júlio Camargo, e no do operador do PMDB no esquema, o lobista Fernando Soares, o Fernando Baiano.

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Cunhe sempre negou qualquer participação no Petrolão e chegou a afirmar em depoimento na CPI da Petrobras, ainda em março, que não tinha contas no exterior. Em agosto, quando foi acusado pela PGR de ter recebido US$ 5 milhões em propinas, teve um ataque de cólera, rompeu com o governo e chegou a afirmar que o procurador-geral da República atuava em nome do Planalto para incriminá-lo. Diante das novas acusações e de tantas evidências, Cunha passou os últimos dias bem mais manso. Reservou-se a dizer que não sabia das acusações e que não falaria mais sobre o assunto. “Apenas meu advogado falará”, disse na tarde da quinta-feira 8, claramente abatido.

Cunha tem razão para estar acuado. Diante de tantas evidências de que mentiu na CPI, dificilmente se manterá na Presidência da Câmara. Sua base de apoio tem diminuído dia a dia e ele corre o risco de se ver sem o apoio até mesmo do baixo clero do Congresso, que, em última instância, o elegeu para comandar a Câmara em fevereiro. Esta semana devem crescer os movimentos para levá-lo ao Conselho de Ética. O objetivo agora dos inúmeros inimigos que conquistou nos últimos meses não é apenas fazê-lo perder o poder que conquistou. Querem cassar seu mandato para que enfrente as acusações na Justiça sem o foro privilegiado.

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Fotos: Alan Marques/Folhapress; DIDA SAMPAIO/ESTADÃO 


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