A reforma ministerial do governo Dilma Rousseff mostra o que todo mundo já sabia há tempos: a presidente é refém de quem manda de fato no País desde a redemocratização, o PMDB – e, claro, os seus aliados de ocasião. Ao negociar até sete Ministérios para os peemedebistas, a mandatária (que não manda tanto assim) aceitou o conselho do padrinho político Lula com muitos meses de atraso e rendeu-se ao mal e velho toma-lá-dá-cá da política brasileira. Mais uma vez, os sete pecados da capital federal imprimem o tom cinzento das negociatas que esfriam a esperança de um Brasil melhor e mais justo. A gula, desejo insaciável por cargos e verbas, revela o lado egoísta de muitos políticos que emparedaram a presidente para saciar sua avareza, seu apego aos bens materiais e o dinheiro, e financiar sua luxúria. De repente, não mais que de repente, a ira de alguns contra o governo foi aplacada com afagos aqui e acolá, enquanto a inveja e a vaidade que separam os líderes peemedebistas da Câmara e do Senado continuam a contaminar a pauta do Legislativo. Para continuar no poder, Dilma cedeu aos pecados capitais. Ai, que preguiça!

Não foi a primeira vez, nem a última, que a política mesquinha fala mais alto que o espírito público, o debate de ideias e a necessidade de fazer a coisa certa que ainda move muitos brasileiros. Mas esse retrocesso é decepcionante. Pior, não significa a volta da normalidade na economia, no bolso dos cidadãos e nos mercados financeiros. O nervosismo e o empobrecimento da nação continuarão a nos incomodar nos próximos meses. No País do 7×1, os sete ministros não garantem a governabilidade tão almejada, que acalmaria os ânimos acirrados no Congresso, e não asseguram nem ao menos um voto pró-reforma do Estado num partido com tantos grupos de interesse quanto congressistas.

No País dos Sete Anões do Orçamento, os novos titulares da Esplanada e do Planalto garantirão, quem sabe, um freio ao movimento de derrubada de seu governo. Dilma foi eleita de forma apertada depois de uma campanha recheada de recursos financeiros que, segundo as investigações da Operação Lava Jato, foram conseguidos na base da corrupção na Petrobras e no setor privado. Sabe-se hoje que milhões de votos foram obtidos com base em falsas promessas eleitorais (um mal, diga-se, que não é exclusividade do PT, nem do PMDB). No País das Armadilhas, a rainha de Copas está nua e qualquer criança que tenha visitado Brasília recentemente é capaz de fazer esse alerta.

Para conquistar os 172 votos de que precisa para barrar um processo de impeachment na Câmara dos Deputados, a criatura voltou a ser tutelada pelo criador. Seu governo, à sombra de Lula, perde autoridade e ganha uma sobrevida da forma mais melancólica possível. Está perdida uma administração impopular que, em plena recessão econômica e com alta do desemprego, do dólar e da inflação, depende de uma base de apoio clientelista, chantagista e sem afinidade ideológica ou programática com quem quer que seja para aprovar medidas de ajuste. Não se trata mais de fazer avançar um programa de reformas consistente, com efeitos benéficos em logo prazo, e que recoloque o Brasil na rota do crescimento. O que se assiste, mais uma vez, é a repetição da história (como farsa, obviamente) de um governo enfraquecido diante de congressistas vorazes e oportunistas, sem capacidade de formulação de políticas públicas eficazes para resgatar a confiança dos empresários, dos investidores e dos trabalhadores. Sem confiança, a roda da economia não voltará a rodar. Eu não consumo, você não investe, eles não trabalham. Nós perdemos.  


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