Numa estratégia para tentar frear o desgaste decorrente da sua inclusão na lista de políticos investigados pela Procuradoria-Geral da República na Operação Lava-Jato, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), apareceu espontaneamente na CPI da Petrobras no mês de março. A intenção era a de apresentar sua versão sobre as suspeitas de ser um dos beneficiários do dinheiro desviado da estatal. Cunha dominou o auditório. A maioria dos integrantes da comissão abdicou do papel de investigador. Foram poucas as perguntas. O deputado Delegado Waldir (PSDB-GO) ousou entabular uma delas. Quis saber de Cunha se ele tinha contas no exterior, incluindo paraísos fiscais. O presidente da Câmara olhou para o colega e, frisando que responderia de forma “clara e textual”, abriu o verbo: “Não tenho qualquer tipo de conta em qualquer lugar que não seja a conta que está declarada no meu imposto de renda. E não recebi qualquer vantagem ilícita ou qualquer vantagem com relação a qualquer natureza vinda desse processo”, afirmou. Ao final da sessão, Cunha foi aplaudido e renovou o apoio político conquistado na Casa.

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E AGORA?
A mentira, se confirmada, pode levar não só ao afastamento
como à cassação do Presidente da Câmara, Eduardo Cunha

Na semana passada, aquele discurso ruiu como um castelo de cartas, complicando e muito a vida do presidente da Câmara. Procuradores da Suíça informaram a seus colegas brasileiros que Cunha tem o controle de ao menos quatro contas secretas na Suíça com somas que totalizam US$ 5 milhões. Uma dessas contas teria como beneficiários sua mulher, a jornalista Claudia Cordeiro Cruz. Elas foram abertas em nome de empresas sediadas em paraísos fiscais. A mentira pode custar caro ao parlamentar. Segundo o regimento da Câmara, mentir para os colegas em plenário pode levar à cassação do mandato por quebra de decoro. Foi por faltar com a verdade que caíram José Roberto Arruda e ACM em 2001, no episódio da violação do painel do Senado, e o próprio ex-senador Luiz Estevão, acusado de desvio de verbas do TRT de São Paulo. Cunha, agora, corre o risco de ter o mesmo destino. No final da última semana, integrantes do PT, do PSOL e do Rede Sustentabilidade já exigiam o seu afastamento da Presidência da Câmara. Caso Cunha deixe o comando da Casa, assume em seu lugar o vice Waldir Maranhão (PP). Como o parlamentar do PMDB ainda não completou metade do mandato, Maranhão teria de convocar novas eleições num prazo de cinco sessões.

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O trabalho da procuradoria teve como origem um comunicado enviado por um banco suíço, cujo nome foi mantido em sigilo. Por ser brasileiro, Cunha não poderia ser extraditado para responder à acusação criminal na Suíça, o que fez as autoridades do país proporem a transferência do caso para o Brasil. O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, topou. O material vai reforçar as acusações apresentadas contra Cunha ao STF. O procurador-geral denunciou o parlamentar por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no mês de agosto, mas não indicou onde estaria o recurso desviado. O procurador se baseou em acusações feitas pelos delatores Júlio Camargo, lobista que intermediava negócios no Brasil para as empresas Samsung e Mitsui, e pelo doleiro Alberto Youssef, um dos encarregados de fazer a distribuição da propina. O chefe do Ministério Púbico Federal acrescentou detalhes de uma apuração relacionada a requerimentos de informação ao Ministério de Minas e Energia protocolados numa comissão temática da Câmara que tinham como alvos as duas empresas. Embora registrados em nome de uma deputada ligada a Cunha, os pedidos teriam sido articulado pelo deputado. Desde então, o fluxo de informações desfavoráveis a Cunha só aumentou na Lava Jato. A fila de delatores que o acusam de envolvimento na roubalheira cresceu. Os lobistas Fernando Soares, conhecido como Fernando Baiano, e João Augusto Henriques, apontados como elos do PMDB nas falcatruas, citaram o presidente da Câmara.

Fotos: Pedro Ladeira/Folhapress