A julgar pelo título da exposição 180 anos da indústria brasileira, que será aberta na terça-feira 16 na Casa França-Brasil, no Rio de Janeiro, pode-se imaginar que se trata de um evento com interesse restrito aos profissionais da área. É preciso explicar que essa mostra promove também um precioso revival cultural e social. Estarão expostos sabonetes, sapatos e roupas, serão exibidos filmes e documentários, além de avião, carro, maquetes de navio e plataforma de petróleo, eletrodomésticos e curiosidades de um mundo que tinha pretensão de ser moderno. Ou seja, ao tratar da evolução industrial, a exposição abrange também a cultura e a sociedade de cada época. Mistura, ao final, aula com entretenimento.

Julio Heilbron, que assina a curadoria ao lado de Elmer Corrêa Barbosa, facilita o entendimento ao montar a mostra através de “um caminho parecido com a linha do tempo”. As décadas vão se sucedendo até chegar à tecnologia e à velocidade dos dias de hoje. “Fica claro que o dia-a-dia espelha a indústria que o povo tem.” E, por outro lado, também “prova que não há indústria que a sociedade não esteja solicitando”. Há vários destaques entre as 200 peças expostas. Da década de 30, por exemplo, vem uma gravação inédita do sambista Ismael Silva contando como criou a primeira escola de samba e cantando Se você jurar. Há, também, um documentário desconhecido e colorido sobre a construção de Brasília, de autoria de um cinegrafista suíço amador.

Entre as máquinas, ganha destaque um perfurador manual e uma prensa, ambos do século XIX, um avião de 600 quilos, o Paulistinha, e o torno do Senai no qual Lula estudou. Podem ser apreciados também linotipos, máquinas de fiar, eletrodomésticos e maquetes como a do reator de Angra 3 e da plataforma P.50, da Petrobras. Depois de passar por cerâmicas, azulejos, carros e vestuário, o visitante chega às décadas de 70 e 80, marcadas pelo desenvolvimento do setor bélico e da eletroeletrônica. Do lado social, um documentário sobre as Diretas- já promete emocionar: assim que o deputado Ulysses Guimarães termina seu discurso, uma multidão canta, em uníssono, o Hino Nacional. A partir dos anos 2000, a exposição assume ares futuristas com a exibição de um braço robotizado utilizado na montagem de carros e de um submarino-robô. Não faltarão detalhes curiosos, como uma série de rótulos de Sabonete Eucalol contando, em estampas, a evolução industrial brasileira, da cana-de-açúcar e do café às torres de transmissão de energia e perfuração de petróleo. É uma bonita trajetória.