Tão desmoralizadas e esgarçadas estão as relações políticas do Governo que o único recurso ao qual ele ainda se apega para angariar algum apoio é a barganha pura e simples, o toma-lá-dá-cá que pratica sem pudor e que deu origem lá atrás aos conhecidos esquemas do “Mensalão”, “Petrolão” e tantos outros. É a ruína inapelável da decência no âmbito federal. Nessa tática de compra de apoio e de votos as gestões petistas, que dominam o País fazendo isso há mais de 12 anos, já receberam doutorado. A presidente Dilma virou mestre do escambo de cargos. Sem nenhum escrúpulo o faz como cartada derradeira para se manter no poder. A que ponto chegamos! Acuada no seu bunker do Planalto, tomada pelo imobilismo administrativo, a presidente voltou a recorrer ao expediente criando um balcão improvisado para as negociatas. Tenta comprar o PMDB oferecendo sete ministérios em plena temporada de cortes operacionais. Busca simpatizantes isolados no Partido depois de ter tido conversas pontuais com os caciques da legenda – por ordem, Michel Temer, Renan Calheiros e Eduardo Cunha – de quem ouviu seguidos nãos. Exatamente por três vezes o PMDB negou Dilma até ela decidir recorrer ao baixo clero. Procurou a bancada peemedebista no varejo e líderes secundários toparam o acerto. Foram movidos, muito mais, por interesses pessoais do que em nome da sigla. Não há qualquer garantia que a generosa oferta de pastas trará fidelidade ou sustentação parlamentar a mandatária. Ao contrário. A ala dos fisiológicos do PMDB tem votado sistematicamente de forma dividida e contra os interesses de Dilma. Fora desse âmbito de entendimentos com o principal time do Congresso, a base aliada petista está conflagrada e as demais agremiações do Governo, como o PTB, já pularam fora do barco ou estão discutindo o abandono – caso, por exemplo, do PSB cujo presidente, Carlos Siqueira, foi demolidor ao avaliar as condições de sobrevivência do mandato da presidente. “Entendemos que esse é um governo moribundo e temos que encontrar um meio de o País não sangrar por muito tempo”, disse. De pires na mão, Dilma escalou a ministra Katia Abreu (da Agricultura) para a tarefa de convencimento de deputados peemedebistas. Como cristã nova do partido, Katia Abreu tem pouca influência junto à bancada, mesmo acenando com ofertas generosas. Ali os ritos funcionam e a procedência de lideranças tem extrema importância. Ao confrontar Temer, Renan e Cunha, driblando a decisão desse triunvirato de não indicar nomes para o ministério, a presidente foi, no mínimo, imprudente e armou um jogo perigoso que pode, e deve, ter um efeito contrário nos humores do partido. Nesse clima, o PMDB já discute como e quando deixar o Governo. O rompimento pode acontecer até 15 de novembro quando se realizará o seu congresso nacional. Enquanto isso, lamentável é assistir à presidente Dilma insistindo na deplorável prática clientelista, mesmo após todos os escândalos revelados. É o fundo do poço para o qual ela arrasta uma nação inteira! A presidente não faz outra coisa que não cometer erros, inventar confrontos e recorrer a subterfúgios para segurar a faixa. O vice-presidente Temer, que lhe deu inúmeras demonstrações de fidelidade, é tratado como opositor, quase um inimigo, num delírio clássico de quem não confia mais nem na própria sombra. Na sua deprimente soberba, Dilma ignora fatos e conselhos. Desdenha dos índices de impopularidade e – contra os que defendem direitos sociais – sai em busca de mais impostos para tapar os buracos que criou nas contas públicas. Chega a oferecer fatias da CPMF a governadores em troca de lobby para levar adiante a medida, barganhando com o dinheiro do contribuinte. O padrinho Lula pediu, há alguns dias, clemência a adversários como Cunha. Em vão. Dilma e o PT afundam no fisiologismo escrachado para ganharem sobrevivência. Não perceberam que o caminho é outro. O comércio imoral da estrutura de poder vai levá-los rapidamente ao fim da linha.
 


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