A sinfonia de talheres na plateia de 586 empresários no hotel Hyatt não havia terminado os acordes do prato principal, medalhão com salada, quando o juiz Sergio Moro orquestrou suas primeiras palavras. “Gostei: Se a palestra for ruim, o almoço salva. Precisava dizer isso. Estava entalado em mim”, o juiz da operação Lava-Jato arrancou risos do público, que o aplaudiu de pé no almoço debate do Lide (Grupo de líderes empresariais), em São Paulo. E emendou: “Não vejo a corrupção como uma questão partidária nem só ligada ao poder público. O agente público não age sozinho”. Era quinta-feira 24, dia em que o STF fatiou o inquérito da operação Lava-Jato, reduzindo o poder de Moro.

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Na palestra “Lições da Operação Mãos Limpas”, Moro relacionou o exemplo italiano que desmantelou a máfia, custando a vida de juízes, com a operação Lava Jato. Citou a delação premiada italiana como trunfo para desvendar a “corrupção sistêmica”, que aqui lembrou acontecer, igualmente “naturalizada”. “Ela afronta a nossa dignidade, como pessoas e como País.” Disse que, só com as delações, a Itália soube que a máfia tinha nome: Cosa Nostra. “Dali tiramos exemplos dos tempos atuais”.

Ele desculpou-se por não poder comentar os efeitos do fatiamento do inquérito da Lava-Jato. Mas a resposta estava nas entrelinhas. “Este não é um momento de mudança. Mas de oportunidade de mudança. O futuro não está garantido”, disse. “Eu não acredito nisso (que a Lava jato mudará o País) se, a partir desse caso, não houver mudanças reais na iniciativa privada e nas instituições públicas. E também nas reformas do nosso sistema de justiça criminal, extremamente moroso. Há um risco concreto de que esses processos caiam no esquecimento”. Foi aplaudido.

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ALMOÇO COM MORO
O juiz Sergio Moro falou a 586 empresários e executivos:
‘Se a palestra for ruim, o almoço salva’, brincou ele

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Moro e a morosidade da Justiça não combinam. Ele acha “um disparate”. Nas 18 perguntas feitas, seis delas o juiz paranaense desculpou-se mas não sentia-se “confortável” para respondê-las. “A prisão de Lula é uma questão de tempo?”, compilou João Doria Jr., com perguntas de Marcos Arbaitman e André Magalhães Pinto. Moro lembrou sua posição de juiz. “Quando se ganha notoriedade, perguntam tudo. Outro dia perguntaram por que uso camisas pretas.” Até onde resistiria ou se ele tinha medo de morrer assassinado, Moro também não se estendeu, mas lembrou: “Quando me vejo em dificuldade, leio a biografia do juiz Giovanni Falcone (morto na Itália) e vejo que o buraco onde ele estava era bem mais fundo. Vamos em frente.” Ele chegou sem escolta. Viajou de Curitiba para São Paulo sem agentes federais e voltou do mesmo jeito. Resposta implícita: Moro não tem medo.