Poucas empresas no mundo possuem uma reputação tão sólida quanto a Volkswagen. Desde que o primeiro Fusca foi lançado, as palavras robustez e eficiência sempre foram associadas aos carros fabricados pela empresa. A credibilidade ilibada ajudou a Volks a ser a montadora que mais vende automóveis no planeta e tornou a companhia símbolo da força da indústria alemã. Na semana passada, o prestígio erigido nas últimas oito décadas sofreu um inesperado golpe. Uma investigação da Agência de Proteção Ambiental (EPA) dos Estados Unidos descobriu que a companhia ludibriou testes que detectam a emissão de poluentes. A malandragem consistia em colocar, nos modelos a diesel, um software que ativa o sistema de controle de emissões apenas durante os testes oficiais. No uso rotineiro dos veículos, os carros voltavam à normalidade, despejando toneladas de poluentes na atmosfera. A Volks fez isso para não comprometer o desempenho dos veículos – fator fundamental na decisão de compra dos motoristas –, ignorando por completo os efeitos nefastos para o meio ambiente.

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Tão chocante quanto saber que uma empresa como a Volks pudesse fazer isso é conhecer a dimensão da tramoia. A própria companhia admitiu que 11 milhões de carros em circulação nos Estados Unidos e na Europa tiveram seus testes de emissão fraudados. Estima-se que o prejuízo total para a fabricante possa chegar a 100 bilhões de euros, incluindo as prováveis quedas nas vendas, as pesadas multas que a Volks terá que pagar e a desvalorização rápida de suas ações nas Bolsas de Valores. “De repente, a Volkswagen tornou-se um risco para a economia alemã maior do que a crise da dívida grega”, disse à agência de notícias Reuters o economista-chefe do ING Bank, Carsten Brzeski. “Se as vendas da Vokswagen na América do Norte afundarem nos próximos meses, isso causará um impacto não só para a empresa, mas para a economia alemã como um todo.” A Volks é vital para a Alemanha. Ela emprega 270 mil pessoas no país e é o carro-chefe de um setor que vendeu para o exterior, no ano passado, US$ 225 bilhões, o equivalente a um quinto das exportações totais da Alemanha.

A favor da Volkswagen está a velocidade com que a empresa se movimentou. Ela não só admitiu a fraude – o que era inevitável diante da repercussão global do escândalo –, como escancarou os seus erros. “Nossa companhia foi desonesta com todos vocês”, disse Michael Horn, diretor-executivo da Volks nos Estados Unidos. “Estragamos tudo.” Na quarta-feira 23, Martin Winterkorn, presidente mundial da empresa, caiu. “A Volkswagen precisa de um recomeço, inclusive em termos de pessoal”, disse o executivo. “Eu vou abrir caminho para um recomeço com a minha renúncia.” O dieselgate não deve ficar restrito à Volks. A suspeita é que outras montadoras tenham usado artifícios parecidos para enganar os órgãos reguladores. Isso é muito sério. Nos últimos anos, aumentou o número de mortes provocadas por óxido de nitrogênio, o poluente emitido pelos carros a diesel.

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