É um orgulho na escola pública do bairro. A sala de informática, com computadores conectados à internet, foi inaugurada pelo prefeito. No discurso ele garantiu: “a inclusão digital de nossas crianças é uma prioridade, vamos diminuir a distância que existe entre o ensino nas nossas escolas e o das particulares”. O ato político gera uma estatística. Nos números, o futuro e o desenvolvimento parecem querer chegar. Nossos meninos de periferia estão conectados, integrados ao mundo.

Até que um novo estudo reúne estatísticas de áreas distintas, compara resultados de diversos cantos do mundo e revela que aquela tal inclusão não inclui tanto assim. Ok, a ferramenta está lá. Mas alguém sabe o que fazer com ela, pelo menos pedagogicamente falando? Uma pesquisa global divulgada pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento econômico (OCDE) revelou que, a despeito de ter avançado no número de computadores instalados nas escolas, o Brasil patina quando o assunto é a utilização desses equipamentos no aprendizado. O País ficou na antepenúltima posição em um ranking global que analisa as competências de alunos na área digital. O trabalho, denominado “Estudantes, Computadores e Aprendizado: Fazendo a Conexão”, conclui, a partir do desempenho de alunos em exames de leitura e matemática, que de nada adianta aparelhar a escola que não consegue executar sua função básica de ensinar. “O fato de assegurar que cada aluno atinja um nível de competências de base em leitura e matemática contribuirá mais para a igualdade em um mundo digital do que o simples fato de ampliar ou subvencionar o acesso a serviços e aparelhos de alta tecnologia”, afirma o estudo.

Educação não tem botão liga e desliga. Ela deve ser construída com uma série de processos que permitirão até mesmo a devida utilização do computador do qual o prefeito tanto se orgulha. Para ler e compreender o que está na tela, primeiro é desejável que o aluno leia e compreenda o que está no papel. A inclusão digital está, portanto, um passo além da inclusão social e educacional. Não há atalho nesse caminho. Sem igualdade de oportunidades em todos os níveis, o fosso entre ricos e pobres apenas fica mais profundo.

O estudo da OCDE suscitou também conclusões equivocadas em outra direção. Houve quem afirmasse, com base nele, que ficou comprovado que a presença de computadores nas escolas não contribui para o aprendizado, servindo muitas vezes como elemento de distração para os alunos. Na verdade, a pesquisa revela que excesso e falta de conhecimento é que tornam essa convivência nula. Países como Coréia do Sul, Cingapura e algumas regiões da China — que realizam grandes investimentos em infraestrutura de tecnologia — destacaram-se positivamente no ranking pelo uso moderado dos meios digitais nas escolas, mas devidamente integrados ao sistema educacional. Sem treinar professores, usar os softwares certos, indicar conteúdos adequados, a máquina não é nada.