O Flamengo está fazendo bonito. A frase não se refere à posição do clube carioca na tabela do Campeonato Brasileiro. Situado na zona intermediária e distante da disputa pela vaga para a Libertadores, o clube não tem se saído muito bem no gramado, mas brilha na arquibancada. Entoada por sua torcida, a canção Eu sempre te amarei virou a nova atração do Maracanã. Inspirada no tema tocado na tevê quando um brasileiro ganha uma corrida na Fórmula 1, a música de letra curta e básica como um Parabéns a você conquistou o público e despertou a atenção dos dirigentes por um motivo extra: não tem palavrões.

Diversos gritos de torcida estão repletos de ofensas e expressões impublicáveis. Livre disso, a canção do Flamengo pode ser popularizada. No recente jogo contra o São Paulo, o telão do Maracanã estampou a letra para os mais de 68 mil torcedores. “Há uma mudança de atitude vista em vários clubes. As pessoas estão cantando músicas que não têm o interesse de estimular briga nem agressões”, diz Ricardo Hinrichsen, diretor de marketing do Flamengo, informando que o clube pensa em desenvolver produtos como toque para celular.

Já o Fluminense tem mais de uma canção para ecoar no estádio. A torcida Legião Tricolor cria músicas para incentivar o time. A mais famosa é Horto Magiko, adaptação do grito do grego Panathinaikos. No começo, eram cinco fanáticos cantando sozinhos na arquibancada. Hoje, elas são repetidas à exaustão pela torcida. “Nossa única regra é não parar de cantar”, afirma o publicitário Mário Vitor, neto do escritor tricolor Nelson Rodrigues.

Botafogo e Vasco também têm suas canções politicamente corretas. Mas clubes de outros Estados contam há mais tempo com o recurso. O Cruzeiro usa as músicas, baseadas em canções do argentino Boca Juniors, em campanha de estímulo à torcida. Folhetos com as letras são distribuídos no estádio. “O Vamos, Vamos é praticamente nosso segundo hino”, revela o diretor de marketing Antônio Claret. Isso tem levado as famílias de volta ao Mineirão. Antes da campanha, a média de público era de 23 mil pagantes. Com a ação, pulou para 32 mil. Em Porto Alegre, o Inter tem um cântico criado sobre o tema da F-1. E o Grêmio adaptou Bebendo vinho, uma composição do cantor Wander Wildner, celebrizada pela banda Ira. “Se ela ajuda a reduzir a violência, acho maravilhoso”, comenta o gremista Wander. Nasi, do Ira, torcedor do São Paulo, brinca: “Se tivesse de invejar alguém, seria por ter uma música minha cantada pela torcida do meu clube.”

MÚSICA SOB ENCOMENDA
Popular pelas marchas de carnaval, o compositor Lamartine Babo, torcedor do América, foi desafiado a fazer músicas para clubes cariocas. As canções passaram a ser mais entoadas do que as composições oficiais. Foi o que ocorreu com o Flamengo. Seu hino diz “Flamengo, Flamengo/ Tua glória é lutar”. Mas o que caiu no gosto do público foi “Uma vez Flamengo”. Já a música do Botafogo desagradou à diretoria por causa de uma preposição. Lamartine cantou “campeão de 1910”. Isso levava a crer que o time não tinha outros títulos. O compositor disse que escrevera “desde 1910”, mas mudara na gravação. O clube impôs o hino oficial no estádio, porém os torcedores consagraram a criação de Lamartine.