A chefia da Casa Civil, posto mais cobiçado da Esplanada, tornou-se sob a gestão petista um mau agouro para quem a ocupa. Primeiro titular da pasta na era petista, José Dirceu caiu, acusado de idealizar o mensalão, e hoje está preso em Curitiba por corrupção. O todo poderoso do primeiro governo Dilma, Antonio Palocci foi apeado do cargo após denúncias de multiplicação meteórica do patrimônio e, agora, é alvo da Operação Lava Jato. Erenice Guerra deixou a pasta acusada de se valer da função para fazer tráfico de influência. Já Gleisi Hoffmann atualmente é investigada por ter recebido repasses ilícitos de empresas envolvidas no Petrolão. Outra ex-ocupante do posto, Dilma Rousseff virou presidente da República, mas atualmente amarga popularidade de 7% e permanece às voltas com o risco de afastamento do cargo.

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ELE FICA?
Se há um consenso no governo é que Aloizio Mercadante deve ser apeado da Casa Civil

Nos últimos dias, chegou a vez de Aloizio Mercadante, atual titular da pasta, ser assombrado pela maldição da Casa Civil. O petista vive o seu pior momento desde que assumiu o cargo, em fevereiro do ano passado. Ele está na iminência de ser investigado pela Justiça, após o pedido da Procuradoria Geral da República para que seja aberto um inquérito para apurar eventual recebimento de R$ 500 mil em caixa 2 durante sua campanha ao governo de São Paulo em 2010. Se o fato de seu nome aparecer na delação premiada do dono da UTC, Ricardo Pessoa, já corrói sua imagem perante a opinião pública, seu estilo de governar o fragiliza internamente. A presidente Dilma já até avalia a possibilidade de substituí-lo no contexto de uma reforma ministerial ampla.

Ao longo do ano, a dissonância na condução do ajuste fiscal levou Mercadante a travar embates com o ministro da Fazenda, Joaquim Levy. Nas últimas semanas, peemedebistas ligados a Michel Temer atribuíram ao chefe da Casa Civil uma série de ações destinadas a boicotar os acertos políticos costurados pelo vice-presidente.

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Um episódio ocorrido na manhã da terça-feira 8 é ilustrativo do desgaste de Mercadante no governo. Durante a reunião de coordenação política, realizada no Planalto, o ministro da Ciência e Tecnologia, Aldo Rebelo (PCdoB), quis medir o termômetro da relação do governo com a base aliada no Congresso. Diante da presidente da República, Dilma Rousseff, e de mais de uma dezena de ministros, Aldo perguntou a Eliseu Padilha (PMDB), titular da Aviação Civil, que também cumpre funções de articulador político, sobre o apoio dos aliados. Com uma dose de ironia, Padilha, olhando para Mercadante, respondeu: “É melhor perguntar para quem realmente entende do assunto”. Fez-se um silêncio profundo e o constrangimento foi geral.

Sobre Mercadante recaem praticamente todas as culpas pelas trapalhadas feitas pelo governo – inclusive as que, porventura, não tenham sido feitas por ele, mas que lhes são atribuídas por respeito à tradição. A disposição de Padilha em provocar, diante de plateia qualificada, o ministro que ocupa a pasta mais importante do governo demonstra não só a irritação do peemedebista, mas também a falta de reverência com que os chefes de outras pastas passaram a tratar o petista. Na Esplanada conta-se nos dedos os ministros que não têm hoje uma relação esgarçada com Mercadante. Se há um assunto sobre o qual petistas e peemedebistas de todas as estirpes concordam é que Mercadante deveria deixar a Casa Civil, pelo bem da governabilidade. Recentemente, o ex-presidente Lula, crítico contumaz de Mercadante, aconselhou um ministro: “Nunca bata boca com o Aloizio. Ele vai usar isso contra você”.

Por ora, Dilma mantém o ministro no cargo, mas já examina uma substituição. Segundo apurou ISTOÉ, se a presidente resolver atender aos apelos de integrantes do Executivo e do Legislativo e trocar seu ministro-chefe, ela deverá fazer com que sua decisão seja interpretada como um movimento político. O momento mais propício para isso seria a reforma ministerial prevista para ser apresentada até o fim deste mês, com o corte de dez ministérios. Assim sendo, estaria consumada a maldição sobre o ministério mais importante do governo.