Desde 1989, contrariando as profecias e os textos bíblicos, o anticristo nasce no Brasil a cada dois anos sempre perto do segundo turno das eleições, sejam elas municipais, estaduais ou para a Presidência da República. Seus opositores usam como podem o rádio e a tevê para mostrar que ele tem a alma da besta, embora não carregue o número 666. O demônio não está personificado no filho de um ladrão com uma prostituta, concebido no pecado, como está nas Escrituras. O “grande satã” no País do Carnaval e do futebol foi criado por metalúrgicos do ABC paulista e incensado pela intelectualidade e pelo clero progressista nos anos 80. Emerge das urnas no fim do século XX mais forte, ostentando uma bandeira vermelha com uma estrela de cinco pontas, onde o número inscrito é o 13. Como os imperadores na Idade Média, que se opunham à Igreja, o atual anticristo, que aqui atente pelo nome de PT, questiona as elites.O maior dos pecados, no entanto, é a ligação com movimentos como o dos trabalhadores sem-terra, que usam como instrumento de pressão ações mais radicais contra o governo. Para não serem arrastados pela onda petista, adversários como o PPB de Paulo Maluf e o PFL de Cássio Taniguchi e Roberto Magalhães jogaram pesado para cima do eleitor que, descontente, havia mudado a cor de seu voto. Levaram a eleição para o campo ideológico, atiçando o medo da classe média de atos radicais. Para atingir os menos favorecidos, a estratégia foi lembrar que os adversários defendem a quebra de valores morais cultivados pelo mais humildes.

Renato Velasco
João Paulo jogou tudo na fama oposicionista do Recife, mas teve de enfrentar a rejeição que o PT provoca

Pecados – A vantagem dada aos petistas foi vendida como o Armagedon. Além de mostrar a ação violenta e injustificável da PM do então governador do Distrito Federal, Cristovam Buarque, do PT, durante remoção de sem-teto na Vila Estrutural, os opositores, em nível nacional, associaram a legenda aos umbrais do atraso, ao antigo muro de Berlim. Ungiram o partido com o bálsamo da baderna, das greves, das invasões patrocinadas pelo MST, do aborto, do homossexualismo e das drogas. Em meio à luta do bem contra o mal, uma voz, que trava uma incansável batalha contra o câncer, se levantou para mostrar de que lado estava o que classificou de inimigo. Entrou em cena o governador de São Paulo, Mário Covas, que, exceto nos debates, foi mantido no armário pelo vice Geraldo Alckmin durante o primeiro turno. Antes mesmo de o PSDB se posicionar em favor da petista Marta Suplicy, Covas cobriu-se com o manto de seu passado de lutas contra o malufismo e a ditadura militar e transformou-se numa espécie de exorcista. Mostrou a seu eleitorado, que reúne matizes do centro à esquerda, em várias ocasiões, que é possível votar no PT. Na terça-feira 25, ao anunciar ter adiado a internação para uma delicada cirurgia a fim de votar em Marta, Covas disse que seu apoio à candidatura de um partido adversário se devia “às qualidades e às virtudes” da petista e não ao que considera defeitos de Maluf: “Não é apenas uma eleição, é mais do que isso. Votar em Marta é uma afirmação da cidadania.”

Beijos e lágrimas marcaram o ato de Covas de abençoar uma aliança, sem cargos, mas com possibilidade de conversas amistosas até 2002. Tudo em nome da governabilidade e sustentação política de ambos, afastando o cálice do poder dos pefelistas na Assembléia paulista. Enquanto isso, o presidente nacional do PFL, Jorge Bornhausen, rompeu a decisão de neutralidade do partido com relação a São Paulo e saiu em defesa de Maluf. Contrariou, assim, o senador Romeu Tuma, que declarou que não entraria no jogo de associar o PT ao diabo, e, de certa forma, ao cacique baiano Antônio Carlos Magalhães. ACM não criticou Bornhausen, mas reafirmou sua posição de neutralidade, nesse caso uma vela acesa na encruzilhada petista.

Breno Laprovitera
Magalhães levou um susto e radicalizou: Também em Recife, o PFL fez o jogo do bem contra o mal para derrotar o PT

A história se repete, o PT está mais light, se abre à política de alianças em direção ao centro, ganha espaço, mas o estigma continua. Luiz Inácio Lula da Silva, principal líder do partido, se assustou com o nível dos discursos. Ele lembrou que tanto os panfletos como as acusações foram as mesmas de Norte a Sul do País: “Há uma maquinação em nível nacional. O desespero tomou conta dos conservadores. Ouço coisas que imaginava que tivessem terminado com o fim do regime militar. É um discurso raivoso, preconceituoso e atrasado.” A estratégia adversária de fazer com que o eleitor tenha medo do PT, segundo Lula, estava congelada. “Agora que o PT se tornou a grande alternativa em 2002, estão vomitando sobre a gente. O que eles chamam de baderna, para nós é o mais alto exercício da cidadania.” Quanto ao MST, Lula admite tratar-se de um movimento autônomo: “Muitas vezes acontece de nós não concordarmos com as ações e estratégias que adotam. Porém, continuaremos sempre a favor da luta pela reforma agrária, que encampávamos muito antes de o MST nascer.”

Sem perdão – As declarações do presidente Fernando Henrique de apoio à candidata do PT em São Paulo não livraram seu governo das críticas do MST, que queima na mesma fogueira em que arde a legenda de Marta, principalmente em anos de eleição. “Seguraram as negociações para que o MST promovesse manifestações e eles pudessem associar isso ao PT”, acusa João Pedro Stédile, coordenador nacional do movimento, que promete um revide a partir da semana pós-eleitoral. A guerra santa desencadeada pelo acirrado segundo turno teve como objetivo transformar candidatos da situação em água benta e os da oposição em manifestações demoníacas. O front virou um ringue de luta tipo vale-tudo. Valeu usar o Ratinho e suas histórias não comprovadas (leia quadro à pág. 26). O presidente do PT, José Dirceu, acusou o apresentador de ser o porta-voz do antipetismo em todo o País. Nem o padre carismático Marcelo Rossi ficou de fora. Suas opiniões contrárias ao aborto foram usadas no programa do PPB de Maluf. O padre, que não revela seu voto nem mesmo a sua mãe, recorreu à Justiça para impedir que o ex-prefeito voltasse a usar sua imagem. Bombas de fabricação caseira também fizeram parte da artilharia. O alvo foi o comitê do deputado Elói Pietá, candidato do PT à Prefeitura de Guarulhos e líder nas pesquisas. A bomba explodiu na quarta-feira 25, à tarde, ferindo cinco funcionários do comitê. Outras duas, do lado de fora, destruíram carros.

Para a socióloga e professora da USP Maria Vitória Benevides a radicalização da campanha no segundo turno foi muito bem orquestrada, onde o alvo era o PT e não os seus candidatos. Segundo Benevides, eles tiveram boa aceitação independentemente do partido e chegaram ao segundo turno em 16 cidades: “A satanização funciona em cima da classe média e do povão. A classe média tem muito medo da proletarização, de ser nivelada por baixo.” A campanha, que segundo a socióloga manipulou e deturpou fatos, surtiu efeito nesses segmentos. “A classe média tem ‘medo da bagunça’ por não ter os mesmos instrumentos que a classe alta para se defender. Manter o direito de propriedade, se livrar do confisco de poupança, do aumento de IPTU. O povão tem medo da dissolução dos valores morais: drogas, aborto, segurança e o que chamam de permissividade sexual”, afirma.

Fotos: Alan Rodrigues
O tucano João Leite evitou nacionalizar a eleição: opção pela mineirice

O mal – O consultor eleitoral Gustavo Venturi, coordenador do núcleo de opinião pública da Fundação Perseu Abramo, ligada ao PT, argumenta que a política do medo atuou em duas frentes: o preconceito e a inexperiência de governo do partido somados à exploração de uma imagem antiga de um PT anarquista. Segundo Venturi, a estratégia funciona não só para a classe média: “Dá certo em todos os segmentos. Tem gente em todo o País com medo do PT comunista, do PT que come criancinha. Medo de uma esquerda revolucionária.” Quanto ao discurso adotado por Paulo Maluf, a questão torna-se mais complexa. Segundo o consultor, Maluf trabalha com os elementos ideólogicos e bate em outros pontos sensíveis à população de baixa renda como a segurança. “A redução de penas é uma tendência mundial para o tratamento da questão carcerária e o que fez Maluf? Jogou a questão na superfície dizendo que criminosos seriam soltos. Para evitar a frase ‘estupra, mas não mata’, não pôs no rol dos beneficiados os estupradores. Generalizou falando em crimes hediondos.” Venturi ressalta que o PT tem os maiores índices nacionais de preferência partidária (20% a 25%) e também a maior em rejeição (15%). Isso somado às propostas que defende, transformam o partido em alvo dos ataques. “É um partido polêmico, que não deixa as pessoas indiferentes.”

A satanização do PT também surpreendeu o cientista político Amaury de Souza, pesquisador do Instituto de Estudos Econômicos, Sociais e Políticos de São Paulo e doutor em Ciência Política pelo Massachusetts Institute: “Foi uma coisa que eu não via há dez anos.” Segundo ele, em cidades como Recife e Curitiba, a resposta do eleitor ao “salto alto” e ao “já ganhou” dos prefeitos candidatos Roberto Magalhães e Cássio Taniguchi, ambos do PFL, foi pôr os petistas Ângelo Vanholi e João Paulo na disputa de uma eleição que estava, em tese, definida em 1º de outubro. “Ninguém poderia supor que o PT, com candidatos sem experiência política e administrativa, chegasse lá. Os prefeitos atuaram como se dissessem: ‘Me diz o dia para que eu assine o termo de posse que estarei lá’. O eleitor mostrou que não quer ser tratado dessa forma.”

O cientista lembrou que Magalhães chegou a um nível de arrogância tal que foi “capaz de entrar armado na redação de um jornal local para protestar contra uma reportagem”. Taniguchi não admitiu ter sido vítima do já ganhou, mas no auge da campanha disse a ISTOÉ: “É inconcebível que alguém não reconheça a eficiência da minha administração.” E considerou impossível que o eleitorado de sua cidade “não enxergue as falhas do PT”. A exemplo de Magalhães, que usou imagens de invasões de prédios públicos pelo MST e a ação desastrosa da PM de Cristovam, Taniguchi também partiu para a ideologização da campanha, pondo ao lado do mal o candidato Vanhoni. Cenas de uma invasão de sem-teto numa área abandonada conhecida como Ferrovila, no centro da cidade, se misturavam a depoimentos de participantes do ato. Eles afirmavam ter sido Vanhoni um dos líderes do movimento. Era, segundo o PFL, o modo petista de badernar. O cientista Amaury de Souza, no entanto, acrescenta que o PT, principalmente em São Paulo, superou todas as expectativas uma vez que a disputa ficou entre quem era o menos rejeitado, “depois da esdrúxula administração de Celso Pitta”. No primeiro turno, afirma, o eleitor paulistano radicalizou: “Votou em uma mulher, com posições polêmicas, firmes e corajosas. Mas no final do primeiro turno, parte do eleitorado encontrou um candidato alternativo, o Alckmin. Mas não havia mais tempo de botá-lo no segundo turno. O PT conseguiu uma quase unanimidade que ele, de fato, não tem. Essa adesão foi muito acima das suas expectativas eleitorais.”

Com muita sede ao pote
Maluf e Yasmine na tevê: suicídio

A campanha de Paulo Maluf na tevê vinha acertando a mão e fazendo o bolo eleitoral do ex-prefeito crescer. Bombardeando sem piedade “o PT de dona Marta”, Maluf encontrou um mote que uniu seu velho discurso anti-violência ao ataque contra Marta Suplicy: a petista é autora de um projeto de lei que prevê reduzir a pena de presidiários que estudam. Para assustar ainda mais a classe média paulistana, aterrorizada com a criminalidade, o programa mostrava vítimas da violência falando contra o projeto. Mas, no afã de nocautear a adversária, a campanha entrou numa canoa furada. Veiculou imagens do Programa do Ratinho, do SBT, onde a suposta médica Yasmine pedia ajuda para encontrar o marido, segundo ela, vítima de um sequestro relâmpago. Depois das imagens, a apresentadora do programa de Maluf dizia: “No dia seguinte, infelizmente, a polícia encontrou o corpo do médico sequestrado e o drama voltou a ser assunto no Programa do Ratinho.” Carlos Massa, o Ratinho, surgia então como cabo eleitoral malufista, repetindo a mesma frase dita pelo ex-prefeito inúmeras vezes, porém, em tom mais agressivo: “Tem ‘nego’ no Congresso falando em diminuir pena para bandido! Sequestrador tem de ter prisão perpétua!” O “nego” em questão seria Marta. O que poderia ter sido uma boa estratégia de marketing acabou virando um tiro no pé. Na quinta-feira, 26, a Agência Estado veiculou na internet a notícia de que o tal sequestro não existiu. O psiquiatra M.F.F., 49 anos, cometeu suicídio num quarto de hotel em São Paulo e, portanto, não foi vítima de “bandido” algum.
Ines Garçoni

Marxista graças a Deus
Luciana: meiga e radical

Entre frevos e outros ritmos regionais, o cantor Luciano Padilha interrompe o repertório para contrabandear a canção Pra não dizer que não falei das flores, que Geraldo Vandré transformou em hino contra os militares há 32 anos. Na praça lotada, os jovens acham graça, mas logo aderem com entusiasmo quando os mais velhos dão as mãos uns aos outros, com braços erguidos, e soltam a voz. No palco, o cantor não é a atração do show eclético. Nem o petista Luiz Inácio Lula da Silva, recebido aos gritos de “presidente”, com slogans de 1989. A estrela da noite chuvosa, enfeitada por bandeiras vermelhas, é a engenheira Luciana Santos, a bela e carismática comunista com 1,73m de altura e 72 quilos que disputa a Prefeitura de Olinda pelo PCdoB.
O sorriso largo de dentes perfeitos, o olhar sedutor e a voz delicada fazem de Luciana, à primeira vista, uma mulher dócil. Quando ela fala, a impressão cai por terra. Marxista que ainda acredita na derrubada do capitalismo, Luciana enfrenta a prefeita Jacilda Urquiza (PMDB) misturando problemas de uma cidade decadente com temas nacionais. “Seria anticientífico falar em revolução agora”, justifica, na linguagem marxista que a levou a integrar a direção regional do PCdoB. O carisma e o poder de articulação de Luciana, deputada estadual, atraiu para seu palanque todos os candidatos que ficaram fora do segundo turno.
Na reta final da campanha, seus adversários tentaram apavorar a classe média com boatos sobre seu envolvimento com os sem-teto, sua sexualidade de solteira aos 34 anos e até seu suposto ateísmo. “Não sou praticante, mas minha família é religiosa”, diz. Mas em Deus, a marxista acredita? “Lógico que sim”, responde sem titubear. “Em Olinda, esse terrorismo fascista não pega. Os olindenses são imunes a qualquer discriminação porque somos, sobretudo, libertários”, defende o candidato derrotado do PDT e ex-prefeito, José Arnaldo.
Com fala mansa e palavras duras, Luciana faz o público levantar as mãos com o polegar e o indicador para compor o “L”. Na multidão dá para ver dois ou três seguidores segurando porta-retratos de Luciana, como nos velhos tempos soviéticos de culto a personalidades. “O povo de Olinda acredita num mundo diferente”, discursa, sem dar detalhes do “mundo diferente” sonhado pelo PCdoB.
Aziz Filho

Itamar entra em campo no fim do jogo

Ex-goleiro do Clube Atlético Mineiro, o deputado estadual João Leite, que disputa pelo PSDB o segundo turno da Prefeitura de Belo Horizonte, não esperava um pênalti a favor do adversário Célio de Castro (PSB) nos minutos finais do segundo turno. Depois de passar toda a campanha recolhido no Palácio da Liberdade, o governador Itamar Franco (sem partido) decidiu, de última hora, gravar seu depoimento em favor do atual prefeito. A gravação, feita na quarta-feira 25, foi veiculada no último dia do programa eleitoral gratuito no rádio e na televisão e deve ajudar Célio a garantir a reeleição no domingo.
Na última pesquisa Brasmarket, feita na quarta-feira 25, entrevistando 1.256 eleitores, Célio de Castro vencia João Leite por 50,7% a 42,3%. Se contados apenas os votos válidos, a diferença cresce para 54,5% a 45,5%. O prefeito, que tem como candidato a vice o petista Fernando Pimentel, teve de suar muito para conseguir o apoio do governador. No início do segundo turno, Itamar ensaiou seu apoio, mas uma declaração do prefeito feriu seus brios e o fez recuar. Célio de Castro afirmou, na ocasião, que não gostaria de ver a eleição em Belo Horizonte federalizada em uma disputa entre Itamar Franco e o presidente Fernando Henrique Cardoso. Foi o suficiente para melindrar o governador. Só com muitas críticas a Fernando Henrique e muitos recados carinhosos na direção de Itamar foi que Célio venceu a barreira montada no Palácio da Liberdade para garantir uma suposta neutralidade.
O apoio só ficou explícito na quarta-feira, quando Itamar se dispôs a receber Célio e o governador de Alagoas, Ronaldo Lessa, um dos líderes nacionais do Partido Socialista Brasileiro. Depois dos salamaleques, ele então autorizou o prefeito a comunicar seu apoio à imprensa e concordou em gravar um pronunciamento, carregando nas tintas, é claro, dos temas nacionais. Itamar disse que o processo político do País corre o risco de ser “substituído pelo poder das grandes corporações”, que Minas Gerais está “sob bombardeio das forças mais reacionárias do País” e a eleição de Célio de Castro será o ponto de partida para unir as forças progressistas para “buscarmos aquela pátria que sonhamos”. Sobre os problemas locais, que deram o tom da campanha dos dois candidatos, nem uma palavra. Com sua fala, mais uma vez, o governador insinua que pode sair candidato à sucessão de FHC, em 2002.
Ao contrário das grandes capitais, onde o segundo turno foi marcado por radicalizações ideológicas ou troca de ofensas e acusações pessoais, como aconteceu no Rio de Janeiro entre Cesar Maia (PTB) e Luiz Paulo Conde (PFL), Belo Horizonte teve no segundo turno uma campanha ao velho estilo discreto da política mineira. O clima um pouco mais quente da reta final, quando a Polícia Militar chegou a intervir para evitar um confronto físico entre os militantes dos dois candidatos, não deu o tom da corrida eleitoral. O velho cacique político Hélio Garcia, ex-governador do Estado, não apareceu nos palanques, assim como o vice-governador, Newton Cardoso, cacique do PMDB.
Aziz Filho

Polêmica impera em santos
Telma e Beto: pães e fitas na disputa

arecem duas crianças explicando para a professora os motivos da briga: “Foi ela quem começou, só estou me defendendo”, diz o prefeito de Santos (SP) e candidato à reeleição Beto Mansur (PPB). “Ele me agride porque está desesperado. Foi ele quem começou com a baixaria”, rebate a adversária Telma de Souza (PT). Baixaria é apelido. Segundo a coordenação da campanha petista, Mansur mandou espalhar boatos pela cidade de que Telma seria homossexual, alcoólatra e drogada. “Recebemos denúncias de gente que foi abordada no ônibus com comentários deste tipo. Tivemos que esclarecer que era mentira”, diz Fábio Cardoso, coordenador da campanha. Mas o pepebista acha que o PT apela. “A Telma agride por agredir. Ela perdeu votos por causa deste estilo rasteiro e debochado”, afirma o prefeito. Telma liderou as pesquisas durante boa parte da campanha, mas perdeu o primeiro lugar nas últimas semanas.
Acusado pela adversária de superfaturar o preço do pão comprado pela prefeitura para a merenda escolar, Mansur rebateu, dizendo que ela fez o mesmo em sua gestão (1989-1992). Não provou. E atacou: “Na carreata da dona Telma, pesos pesados do PT, como o Lula, o Mercadante, o Genoíno e o senador Suplicy atiraram pãezinhos nas pessoas que a vaiavam.” Porém, não há imagens ou fotos da cena. A troca de acusações não pára por aí. Militantes do PT dizem que o prefeito mandou retirar das ruas os cartazes da adversária. O prefeito também diz que petistas tentaram agredir seu filho de 18 anos e assessores.
Uma fita gravada no fim de um debate no Sesc foi alardeada como a arma mais possante da campanha de Mansur. Ele convocou a imprensa para mostrar seu conteúdo explosivo: uma voz, que supostamente seria da adversária, o ameaçava, com palavrões, de violência sexual. O registro só foi possível, segundo Mansur, porque ele ainda estava com o microfone ligado. O prefeito, no entanto, não usou a fita em seu programa e está sendo processado pelo PT por não ter apresentado o laudo da perícia que disse ter feito do material.
Ines Garçoni