A guerra civil de Angola, que já matou mais de um milhão de pessoas está quase no fim, depois de 26 anos de combates entre o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), do presidente José Eduardo dos Santos, e a União Nacional para a Independência Total de Angola (Unita), liderada por Jonas Savimbi. A previsão otimista é do ministro-conselheiro, Luis Felipe Alonso Galiano, 45 anos, casado, há dez meses na Embaixada de Angola em Brasília. Galiano fala da importância do Brasil como parceiro na reconstrução de Angola. A ex-colônia portuguesa é rica em petróleo, porém mais de dois dos seus 12 milhões de habitantes passam fome.

Istoé – Como está a relação entre Brasil e Angola?
Luis Felipe Alonso Galiano – Existe total cooperação, com a presença de empresas brasileiras, como a construtora Odebrecht. Há projetos em andamento como a barragem de Capanga, e outros novos como a construção de redes de água e luz na periferia de Luanda. Existem também os projetos de assentamentos dos refugiados. Há cerca de duas semanas esteve no Brasil uma delegação do Ministério da Agricultura angolano que veio aprender com as autoridades brasileiras formas para assentar as populações.

Istoé – Qual a previsão do conflito acabar?
Galiano – A guerra está em via de terminar. Neste momento, mais de 95% do território nacional está sob o controle das forças do governo. Existem ações isoladas de grupos que agem para sua própria subsistência. Eles assaltam para comer. São homens sem comando, porque todos os postos da Unita foram neutralizados.

Istoé – Caso Jonas Savimbi seja preso, ele será executado?
Galiano – Se capturado vivo, será julgado. Na guerra nunca se sabe quem sai vivo ou morto. E conhecendo as características de Savimbi, para ele será um vexame se for apanhado vivo.

Istoé – Qual a situação dos refugiados?
Galiano – Cerca de meio milhão está em acampamentos. O governo está fazendo um esforço para dar o mínimo de assistência alimentar e médica. Mas ainda são como gotas d’água no oceano.

Istoé – O secretário-geral da ONU, Kofi Annan, afirmou recentemente temer que a guerra angolana se espalhe para os países vizinhos. Como o sr. vê isso?
Galiano – A guerra foi para as fronteiras. Acossadas pelas forças do governo, as tropas da Unita se refugiam em territórios vizinhos, como na Zâmbia.

Istoé – Multinacionais petrolíferas como a Exxon anunciaram o investimento de US$ 20 bilhões para os próximos anos. Mas a oposição diz que o dinheiro do petróleo nunca é repassado em benefícios para o povo. O que o sr. acha disso?
Galiano – Isto não é verdade. Basta ver os investimentos que estão acontecendo no país. Estamos construindo bairros inteiros e realizando projetos sociais.

Istoé – O governo anunciou este ano um pacote econômico de US$ 250 milhões. Em que será aplicada essa verba?
Galiano – O investimento será para a reabilitação dos refugiados com o relançamento da economia. Em abril deste ano fizemos um acordo com o FMI que entendeu que há um esforço real do governo. Também estamos com financiamento do Banco Mundial e do Banco Africano de Desenvolvimento, que autorizaram esses projetos de água, de luz e de construção de hospitais.

Istoé – Segundo a oposição, a corrupção custa ao país US$ 800 milhões anuais. Como o governo pretende combatê-la depois da estabilização?
Galiano – Não negamos que haja corrupção. Mas já falar em milhões, é coisa da oposição. Para fiscalizar a distribuição de verbas, será implementado ainda este ano, o Tribunal de Contas.

Istoé – Qual o recado para os possíveis investidores brasileiros em Angola?
Galiano – Que viajem até lá para ver com seus próprios olhos as reais potencialidades daquele país. É verdade que não está 100% em paz, mas para lá caminha. E que não tenham medo de investir. O futuro é risonho para Angola.