Roupas unissex existem desde que Adão e Eva usaram a folha de parreira para cobrir suas vergonhas. Mas foi somente no século XX, com o estilista italiano Giorgio Armani, que a humanidade viu essa tendência articulada com elegância. “Armani deu aos homens guarda-roupa erotizado e as mulheres ganharam peças que refletiam sua ascensão ao poder”, explica Harold Koda, diretor do Costume Institute do Metropolitan Museum de Nova York. E, desse modo, não apenas os trajes ajudaram a tornar mais fluidas as diferenças visuais entre ambos os sexos, como também embaralharam os limites entre arte e comercialismo. A prova disso está na exibição de 400 itens de vestuário da mostra Giorgio Armani inaugurada na segunda-feira 23, na rotunda do Guggenheim Museum de Nova York.

Não se trata de uma montagem tipo butique pós-moderna. É um evento, com instalação arquitetada pelo artista Robert Wilson, que usou iluminações dramáticas, painéis teatrais e música do compositor Andrew Galasso, como moldura para as obras de arte saídas de um ateliê de costura. O catálogo tem texto do cineasta Martin Scorsese, um dos muitos glitterati que ajudaram a elevar o designer milanês à condição de ícone.

O italiano levou também roupas em estilo marroquino e japonês

Com essa mostra, o Guggenheim dá continuidade à série de exposições que procuram discutir elementos da cultura popular. A versatilidade de Armani é demonstrada em cada uma das 400 peças da mostra. O próprio estilista ajudou na seleção e não ficou apenas em suas marcas registradas de sucesso – como as combinações de cores sóbrias em ternos, camisas e gravatas, os ombros largos e cintura ajustada, as lapelas estreitas que tornaram cult o ator Richard Gere no filme Gigolô americano em 1980. No Guggenheim também estão, por exemplo, a graciosa coleção japonesa – que o estilista descreve como “uma espécie de sonho” – e parte da coleção estilo marroquino.

Armani montou banca própria em 1975, depois de passar longo período como aprendiz do mestre Nino Cerruti. Assim, a mostra ganha um caráter de celebração de bodas de prata: são 25 anos de criatividade independente para o milanês. O convite para a exposição partiu do diretor do Guggenheim, Tom Krens. Mas se descobriria depois que o designer prometeu uma doação US$ 5 milhões para o museu. A transação pode dar a impressão de que Armani comprou seu lugar no panteão do museu, mas em se tratando desse estilista as suspeitas pesam pouco.