Murilo Benício faz questão de dizer que Sabor da paixão (Woman on top, Estados Unidos, 1999), seu primeiro filme hollywoodiano, em cartaz nacional, não foi feito para o público brasileiro. Ainda bem. É difícil ficar indiferente às liberdades que a diretora venezuelana Fina Torres e a roteirista Vera Blasi, uma brasileira criada em San Francisco, tomaram ao contar a história da “baianinha” Isabella, vivida pela espanhola nada calipígia Penelope Cruz. Casada com Toninho (Benício), ela vive num barraco à beira da praia que vem a ser o restaurante “mais conhecido do Brasil”. Mesmo assim, cansada de ser menosprezada, abandona o negócio e vai para os Estados Unidos. Lá encontra Monica (Harold Perrineau, Jr.), um amigo de infância que se tornou travesti.

Cozinheira de mão cheia, Isabella é levada pelas mãos do produtor Cliff (Mark Feuerstein) para estrelar um programa de culinária na televisão, tornando-se um sucesso. O restante do filme, rodado em Salvador e San Francisco, mostra as tentativas de Toninho em recuperar a amada. Contado num tom de conto de fadas umbandista, este pastiche de Dona Flor e seus dois maridos seria simpático se fizesse referência a uma ilha qualquer da Polinésia. Ao focalizar o Brasil, conseguiu, contudo, ser mais caricatural que os desenhos de Walt Disney dos tempos da política de boa vizinhança. Não bastassem os absurdos, Benício teve ainda de aguentar ser comparado a Antonio Banderas pela crítica americana. Apesar de ter sido o único nome principal a ser submetido a testes, foi elogiado e já estuda alguns roteiros. A julgar por esta estréia, todo cuidado é pouco.