Como três patetas vestidos de macacões listrados, Everett Ulysses (George Clooney), Pete (John Turturro) e Delmar (Tim Blake Nelson) fogem de um campo de trabalhos forçados no Mississippi e saem em busca de um tesouro escondido. O clima picaresco e de matinê de E aí, meu irmão, cadê você? (O brother, where art thou?, Estados Unidos, 2000), em cartaz nacional na quinta-feira 2, filme de época dos irmãos Joel e Ethan Coen, passado durante a depressão americana, começa pelo perfil dos amigos trapalhões. Everett é um pilantra almofadinha, ocupadíssimo com a brilhantina dos cabelos; o baixinho Delmar, um saco de pancadas que vê em Deus a salvação; e Pete, por fim, um ser vidrado em rabo de saias. Fugindo da polícia pelos pântanos e matas do chamado Deep South – região dos Estados Unidos onde a religião batista, o blues e a força negra geraram um caldo cultural especialíssimo –, o trio depara com tipos bem distantes do normal.

O primeiro deles é um visionário que vaticina para os fugitivos uma vida de aventuras e fortuna. Tem ainda o gângster maluco, o bluseiro que vendeu a alma ao demônio, os famigerados da Ku Klux Klan, o dono de gravadora cego que os transforma no grupo The Soggy Bottom Boys (Os Traseiros Molhados), as belas sereias e um vendedor de Bíblia caolho, parecido a um ciclope, vivido por John Goodman. Estes detalhes mitológicos têm razão de ser. Segundo os Coen, o filme – que tem como protagonista um Ulysses – é baseado em A odisséia, de Homero. Obviamente, a brincadeira acabou sendo a melhor piada de um dos trabalhos mais leves da dupla, que por ora resolveu se render à sessão da tarde.