No centro da rinha televisiva, Rogério Gallo resolveu colocar as esporas de fora. O motivo da briga, que ele agora detalha pela primeira vez, foi sua polêmica demissão do cargo de superintendente artístico e de programação da Rede TV! Um cargo que, diga-se de passagem, lhe assegurava um salário líquido mensal de R$ 90 mil, além de regalias que incluíam apartamento, carro e viagens internacionais, e coroava o jovem de 33 anos com uma das mais meteóricas e promissoras carreiras da televisão brasileira. Gallo começou no ramo aos 19 anos como repórter-abelha (misto de cinegrafista e jornalista) do programa TV Mix, da TV Gazeta. Três anos depois já era um dos nomes mais importantes na implantação da MTV brasileira. Como de praxe nestes casos, aliou ao seu perfil a fama de sedutor. Namorou a atriz Andréa Beltrão, a apresentadora Maria Paula e chegou a se casar com a também atriz Maria Luisa Mendonça, com quem teve a filha Julia, três anos. Atualmente, mora com Adriane Galisteu, pivô da sua saída da Rede TV! Quando Adriane assinou com a Rede Record, no início de outubro, Gallo foi acusado pela direção da antiga emissora, principalmente pelo vice-presidente Marcelo de Carvalho Fragali – acionista minoritário com 33% das ações – de ter omitido informações sobre as negociações. Segundo Fragali, houve “quebra de confiança”. Gallo não só rebate tais acusações, como reclama na Justiça o recebimento de R$ 2 milhões, correspondentes à quebra de seu contrato, que vigoraria até 2003. Abaixo, os principais trechos da conversa.

As mulheres de Rogério Gallo
ADRIANE
GALISTEU
MARIA
PAULA
Sempre bem acompanhado: com uma
carreira meteórica e a façanha de
ter implantado a MTV brasileira, Gallo
também ficou conhecido por ter
seu nome ligado ao de mulheres famosas
ANDREA
BELTRÃO
MARIA
LUISA

ISTOÉ – Em 11 meses de existência, a Rede TV! começava a alcançar bons índices de audiência. O que vai acontecer agora, com a sua saída?
Gallo – Todo este movimento é pretexto para interromper o projeto original da emissora. Vínhamos fazendo uma televisão com uma cara moderna, mas popular. Passei a representar um obstáculo na tentativa de vulgarização da programação. A Rede TV! tende a se transformar numa nova CNT, numa televisão mixa, vulgar. Já estava havendo uma pressão por parte do senhor Marcelo de Carvalho. A emissora surgiu dos escombros da Manchete, uma herança funesta. Quando cheguei lá, estava transformada num canal de televendas, numa emissora alugada. Em dez meses a gente demonstrou que é possível fazer sucesso com um produto bem-acabado.

ISTOÉ – Por que você acha que a vulgarização é inevitável?
Gallo – Os acionistas da Rede TV! não têm nenhuma experiência em televisão. O que venderam para os profissionais que foram para lá, eu inclusive, foi a proposta de fazer uma televisão moderna, simples, saudável financeiramente, com um projeto de qualidade e equipamentos de primeira geração. Na prática, o que se viu foi o caos. Uma situação dramática. Falta de pagamento de salários, equipamentos sendo retirados pelos fornecedores no meio das gravações. Os estúdios chegavam a atingir uma temperatura de 45 graus, pessoas da platéia e até apresentadores passavam mal porque não havia ar condicionado. Faço votos que essa vulgarização não aconteça de maneira tão avassaladora. Mas a tendência da Rede TV! é entrar neste processo. Têm ocorrido problemas técnicos gravíssimos, com blocos interrompidos abruptamente no ar. Isso vem do próprio amadorismo. O background dos acionistas é o de telemarketing. Estão buscando resultados imediatos e especulando com o canal. Querem audiência a qualquer preço rapidamente, já pensando na entrada do capital estrangeiro.

ISTOÉ – Não houve quebra de confiança da sua parte?
Gallo – Este episódio fez a máscara cair. Você já viu algum dono de televisão, seja Silvio Santos ou Roberto Marinho, ir à imprensa e massacrar um ex-contratado e uma ex-apresentadora? A Rede TV! criou uma central de insultos para nos agredir. A quebra de confiança alegada por eles é uma desculpa de mau pagador. Vão responder em juízo, civil e criminalmente, pelos insultos que fizeram. Me deram uma rasteira. Querem me dispensar sem pagar a multa. Como podem alegar que houve quebra de confiança se a ida da Adriane para a Record era pública? Mesmo assim eu comuniquei todos os movimentos para eles. A Record ofereceu para a Rede TV! a possibilidade de Adriane ficar mais duas semanas até encontrar uma substituta. Mas os acionistas disseram que ela não pisaria mais lá. No momento em que o Senado discute a concessão da Rede TV! eu queria que os senadores fossem ao fórum examinar as dezenas de ações trabalhistas e títulos protestados contra a emissora e ver quem pode falar em ética e em confiança. 

Uma Ferrari

Marcelo de Carvalho Fragali não imprime o título de vice-presidente da Rede TV! no cartão de visitas, não se deixa fotografar e prefere dirigir um carro velho e batido. Razões de segurança, diz. Mas não esconde sua eloquência ao defender a emissora no episódio Rogério Gallo. Na sua opinião, o ex-diretor artístisco e de programação jogou fora uma “oportunidade de ouro” ao privilegiar a relação afetiva com Adriane Galisteu. “Ele se omitiu e traiu a confiança que a empresa lhe depositou, demonstrando uma lealdade canina à namorada. Esta acabou sendo a razão da sua desgraça profissional.” Segundo Fragali, há dois meses Gallo realmente comunicou à emissora o interesse da Rede Record por Adriane. Na época o negócio não avançou. Mas quando a contratação se concretizou, Gallo teria se omitido. No dia 28 de setembro, Fragali foi informado que uma revista iria noticiar a saída da apresentadora. Ligou para Gallo, que respondeu, segundo ele, com uma negativa: “Não há absolutamente nada, isso é um absurdo.”

Fragali decidiu então ir pessoalmente à Rede Record. Soube que tudo já estava acertado e aproveitou para pegar a multa de R$ 800 mil. “Não posso ter um diretor artístico bobinho. E naquela ocasião, Gallo não nos alertou sobre nada.” O executivo também não poupa Adriane. “A maneira como ela saiu foi desonesta. Mas hoje damos graças a Deus pela sua saída, que provocou um aumento de 50% na audiência do Superpop. Não pensei que ela fosse tão sem importância.” Com relação às críticas de Gallo, Fragali nega qualquer intenção de abaixar o nível da programação ou de negociar a emissora. Garante que nos últimos cinco meses os títulos protestados e os salários atrasados foram pagos. “Entramos com o telejornal no ar enquanto estavam concretando o estúdio, mas hoje a emissora é uma Ferrari.”