O ambiente em nada lembra as bibliotecas convencionais. O clima austero e silencioso foi substituído pela alegria e descontração. Tudo foi cuidadosamente planejado para deixar o estudante em harmonia com o espaço, aproximá-lo dos livros e estimulá-lo à leitura. Ali, na biblioteca interativa da Escola Municipal Vicente Zammite Mammana, em São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo, crianças de seis a 11 anos escolhem sozinhas o que desejam ler. Elas têm acesso direto às estantes e ficam livres para criar e buscar o que interessa. A mudança começa no mobiliário, na decoração e na disposição dos três mil livros nas prateleiras. As estantes são baixas, as mesas e cadeiras pequenas e as salas multicoloridas. Almofadões decorados e com forma de jacaré e outros animais, como jacarés, permitem que a criança leia ou assista a vídeos, sentada ou deitada. Um pequeno palco para apresentações completa o espaço. O sistema funciona ainda como extensão da sala de aula. Um educador estimula os alunos a discutirem assuntos do seu cotidiano e a tirar as dúvidas surgidas na leitura dos livros.

A escola Vicente Mammana é a primeira do Brasil a implantar o programa de bibliotecas interativas criado há três anos pelo professor Edemir Perroti, da área de Biblioteconomia da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (USP). Essa experiência ganhou a simpatia de educadores da França, que a reproduziram naquele país. Uma parceria entre o governo francês e a USP prevê a troca de idéias e a aplicação de projetos ligados à área de educação. A proposta de Perroti foi apresentada durante um estágio oferecido a educadores brasileiros pelo Ministério da Educação da França. “É interessante saber que nossos estudos se tornaram um exemplo para as escolas francesas”, orgulha-se Perroti. O que chamou a atenção dos europeus foi a importância das mudanças no espaço da biblioteca, como decoração e disposição do mobiliário, no desenvolvimento cultural dos alunos. De acordo com Perroti, a criança cria uma identificação com o ambiente e passa a interagir com tudo o que está ao redor. Em convênio com a USP, a Prefeitura de São Bernardo deve criar outras bibliotecas semelhantes na cidade.

A estudante da primeira série do ensino fundamental, Bruna Laira da Conceição, sete anos, foi uma das primeiras a chegar à sala da nova biblioteca da escola. Seu primeiro ato foi caminhar en diração à estante e localizar o livro predileto. “Posso pegar, tia?”, perguntou Bruna à professora, ainda surpresa com as regras da nova biblioteca. “Adoro ler livros de historinhas e de computador”, disse a eufórica estudante, enquanto folheava o livro infantil Os três porquinhos. Para o professor Perroti, a biblioteca é um campo aberto para a mudança na educação. “Com a transformação do espaço escolar, estamos formando cidadãos para a chamada sociedade da informação”, afirma.