Era uma vez um povoado localizado no município de Buriticupu, no Maranhão, que era chamado pelo nome nada atraente de Presa de Porco. Às margens do Rio Pindaré, a vila distante 400 quilômetros da capital, São Luís, sofria com todas as dificuldades de um local pobre e ao qual os serviços públicos não chegam. A distância e o acesso complicado congelou o povoado em um eterno estado de abandono oficial, com falta de saneamento básico e de coleta de lixo. Para piorar a situação, Presa de Porco estava localizada fora da região semiárida brasileira atendida pelo programa federal de construção de cisternas. Mas um projeto começou a dar esperanças de melhorias para os seus habitantes. Com tais condições precárias e localizado à beira da Ferrovia Carajás, o povoado se tornou uma escolha natural para receber um programa de saúde da mineradora Vale, dona da rede ferroviária.

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VIDA NOVA:
A Vale mudou o nome do povoado de Presa de Porco para Vila Pindaré e
identificou moradores capazes de construir cisternas e banheiros
para acabar com surtos de doenças, como a diarreia

Uma das primeiras medidas foi incentivar o povoado a adotar o nome de Vila Pindaré. “Imagina a falta de autoestima das pessoas de lá, por morarem num local chamado Presa de Porco”, afirma a diretora presidente da Fundação Vale e diretora de relações com a comunidade da mineradora Isis Pagy. “Elas costumavam dizer que não sabiam fazer nada e que não serviam para nada.” Em parceria com a organização não-governamental Centro Popular de Cultura e Desenvolvimento (CPCD), a Vale criou o projeto Casa Saudável, que identificou pessoas capazes de se tornar pedreiros e passou a treiná-los a partir de 2013. O objetivo era fazer essa mão de obra, que ganhava qualificação, atender ao menos um quarto das 425 famílias mais vulneráveis que vivem na comunidade. Primeiramente, eles aprenderam a construir cisternas. “Os rios ficam longe da vila e os poços que a comunidade fazia eram muito precários”, diz Isis. “Caíam animais mortos na água e ninguém descontaminava o poço.” Depois de completada a primeira etapa, os pedreiros aprenderam a construir banheiros, uma obra um pouco mais complexa. Antes do projeto, havia seis casas com banheiro. Agora, são 110.

Os resultados positivos são comprovados com números. Apenas oito famílias contavam com cisternas. Atualmente, são 84. Essa situação fez a presença de pessoas enfermas de diarreia cair de 83 casas para 26, em um ano e meio. A hepatite A, que pode ser causada pela ingestão de coliformes fecais, atingia 24 famílias, e agora acomete apenas 11. Não havia tratamento de água em 24 residências. Atualmente, 12 ainda não possuem. Até mesmo na produção de alimentos houve uma evolução importante. A comunidade plantava apenas 17 culturas, e hoje são 66. “Com isso, as pessoas deixam de gastar dinheiro para a compra de comida, e ainda podem vender os alimentos e ter um rendimento extra”, afirma Isis.

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Por ser um projeto que exige mais ação do que grandes investimentos para trazer resultados relevantes, o projeto Casa Saudável se insere dentro da nova filosofia de investimentos sociais da Vale. “Antes, se investia para criar ilhas de excelência de educação, mas quem não conseguia entrar em uma das poucas vagas ficava sem treinamento”, diz Isis. “Estamos saindo dessa lógica, usando a iniciativa privada para o fortalecimento de políticas públicas.” A companhia de R$ 90 bilhões de faturamento e que direcionou, no ano passado, US$ 1,1 bilhão para programas de sustentabilidade realiza mais de uma dezena de projetos de melhoria de saúde ao mesmo tempo. O projeto na Vila Pindaré é um deles (ver quadro). O ideal é que os impactos continuem sendo sentidos por anos depois da realização do projeto, e que a iniciativa privada também acabe colhendo os frutos do programa. No caso do Casa Saudável, isso tem acontecido: 40 dos pedreiros treinados na Vila Pindaré, ex-Presa de Porco, já foram subcontratadas pela Vale na região.

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Fotos: Divulgação