Na tarde do último dia 31 – o dia das bruxas nos Estados Unidos –, Margareth Mitchell, uma nova-iorquina de 76 anos, procurava desesperada a saída do novo museu de cera de Madame Tussaud, recém-inaugurado na rua 42. Ela estava aterrorizada com o que vira, principalmente no último setor dedicado a celebridades esportivas e musicais. “Não vi ninguém vivo por lá. E aquelas figuras me olhando, tão reais”, disse ao encontrar um dos atendentes do museu. A mostra das renomadas esculturas de Tussaud tem esta particularidade: confundem os sentidos do público. A maioria das vezes, não se sabe ao certo quem é de carne e osso, e quem é de cera. Assim como na matriz da casa em Londres, e também nas outras três subsidiárias – Hong Kong, Amsterdã e Las Vegas –, a impressão que se tem é a de percorrer galerias repletas de gente famosa (algumas com cabeças decepadas, como a ex-imperatriz francesa Maria Antonieta) que está postada como assombração. Nova York ganhou no mês passado sua versão particular deste palácio de réplicas, num prédio de 28.300 metros quadrados, onde foram investidos US$ 50 milhões. Comporta cerca de 200 figuras – entre elas os brasileiros Pelé e um insuspeitado Ayrton Senna – uns mais, outros menos parecidos com os originais humanos. De todo modo, é parafina suficiente para se fazer mais de um milhão de velas de sete dias.

No caso dos brasileiros, infelizmente, Madame perdeu a mão ao fazer as formas. O jovem Pelé, por exemplo, enverga corretamente o agasalho da seleção canarinho que conquistou a taça em 58. Sua fisionomia, porém, assemelha-se mais ao lateral-direito Josimar, da Copa de 86. Mas é o piloto Senna quem leva a pior. Para encontrá-lo é preciso muita atenção às placas com nome e histórico das personagens. Parece até que os autores da estátua usaram como modelo outro corredor patrício: o atual campeão de Fórmula Indy, Gil de Ferran. A empresária brasileira Marilena Sanches, 39 anos, dona do Bar Açaí em São Paulo, levou a família para conferir seus compatriotas e concorda que as reproduções estão longe do original. No entanto, seria muita injustiça julgar o lote apenas por esses lapsos. Logo na entrada do museu está um clone da atriz Whoopi Goldberg que não poderia ser mais real. Tanto que ela própria atesta: “Minha escultura é tão próxima do original, que um de meus ex-maridos pediu para ela pensão alimentícia.”

A arte de Madame Tussaud continua praticamente imutável desde que ela começou a expor suas criações há 200 anos. A técnica foi passada a ela por um certo dr. Philippe Curtius, que se especializou em máscaras mortuárias. Marie Tussaud nasceu em Strasburg em 1761, mas acompanhou Curtius – que era amante de sua mãe – a Paris. Foi lá que seu circo de personalidades ganhou fama. Entre os modelos de seu acervo constam aqueles que perderam a cabeça durante a Revolução Francesa. A rainha Maria Antonieta e o rei Luis XVI ainda tinham os cabelos banhados em sangue arrancados pela guilhotina, quando Tussaud lhes fez o molde. É possível se ver o mórbido resultado na Câmara dos Horrores de seus museus. O trabalho de Tussaud foi tão reconhecido que ela ganhou de presente a lâmina que decapitou Maria Antonieta. A peça está exposta em Londres, mas há uma cópia bastante convincente em Nova York.

A mordida dada por Mike Tyson em Evander Holyfield parece real, assim como o rosto de Ronald Regan

Fama – Cansada de ver cabeças rolarem, Madame resolveu carregar sua tropa de celebridades para o outro lado do Canal da Mancha, ancorando em Londres, onde fez fama internacional. A atenção aos detalhes na composição das figuras fez de seu negócio a terceira maior atração turística da cidade – perdendo apenas para a troca de guarda da rainha e a Torre Sangrenta. O mesmo cuidado foi exportado para a versão americana. Pegue-se o exemplo do boxeador Evander Holyfield – ex-campeão mundial dos pesos pesados. Sua estátua leva a marca precisa da arcada dentária de Mike Tyson, que lhe decepou parte da orelha com uma mordida durante seu último confronto. É de se imaginar que Tyson – que não foi clonado pelo museu – terá sido chamado para morder o boneco de cera.

Em se tratando de Nova York – lugar obcecado com o próprio umbigo –, o museu local deu preferência às personalidades nativas. Lá estão perfilados ícones da cidade, como o cineasta Woody Allen, o prefeito Rudy Giuliani e o empresário Donald Trump. Nem todos, porém, ficaram satisfeitos com a homenagem. A socialite Ivana Trump – ex do Donald – reclamou que foi usada menos cera em seu busto do que o volume de silicone que ela comprou a peso de ouro para lhe dar contornos mais sensuais. Já a ex-primeira-dama americana Nancy Reagan diz que chorou ao ver a reprodução de seu marido, Ronald.

Além da galeria de personagens, o Madame Tussaud nova-iorquino tem também um show interativo em que o público é levado a um passeio de carruagem virtual pela cidade. Os momentos mais marcantes da história da Big Apple são mostrados e explicados por um simpático guia – de cera, é claro.