Já faz tempo que o sexo deixou de ser um tabu. Há mais liberdade nas conversas entre pais e filhos e as crianças vivem uma erotização precoce, muitas vezes estimuladas pelos próprios adultos. Mas ainda se domina muito pouco a cartilha sexual. Falta informação ou, nos casos em que se tem acesso a revistas, livros, sites e programas televisivos sobre o assunto, não se sabe bem o que fazer com ela. Há pais que ainda se sentem constrangidos e despreparados para lidar com a curiosidade de seus filhos. Com base nas dúvidas que a população procura esclarecer por meio de serviços de orientação sexual online e por telefone, o Instituto Kaplan, Centro de Estudos da Sexualidade Humana de São Paulo, desenvolveu um novo método para falar sobre sexo, drogas e aids. Trata-se de um jogo que reproduz situações cotidianas num tabuleiro com vários ambientes: casa, escola, bar, praça, shopping, festa, posto de saúde, hospital. Ao lançar os dados e circular por esses espaços, os jogadores retiram cartas propondo perguntas com respostas alternativas, desenhos, mímicas e simulação de situações.

No sábado 28, o Instituto Kaplan testou o jogo Aprendendo a Viver pela primeira vez na Casa da Solidariedade, um espaço de assistência a famílias de baixa renda no bairro de Campos Elíseos, mantido pelo Fundo Social de Solidariedade do Estado. Cerca de 200 adultos, crianças e adolescentes com idades entre sete e 15 anos dividiram-se em grupos e passaram o dia jogando. O objetivo da brincadeira é sair e voltar para casa sem contrair o vírus HIV. O jogo trafega pelas mais variadas situações: como enfrentar a pressão dos amigos para transar, como reagir a um convite para experimentar drogas, as consequências do uso do crack e da cocaína. Quando o jogador retira cartas de risco, há mensagens do tipo “Você encontrou uma seringa usada no jardim e brincou com ela.” Ou seja, ele corre perigo. Para cada carta de risco, o participante recebe outra com as letras H, I ou V. Se durante o jogo ele acumular as três letras significa que contraiu o vírus da aids. Não ganha apenas quem se livra do HIV. Quem vive menos situações de risco, passa primeiro por todos os ambientes ou faz mais pontos também sai vitorioso. Nas cartas-pergunta, cada resposta certa vale de 2 a 3 pontos. As cartas-desafio, que propõem tarefas como representar uma cena em que você vai transar e o parceiro esqueceu a camisinha, valem 2 pontos.

Os participantes dialogaram e trocaram conselhos sobre os desafios. A experiência foi enriquecedora. “Dá para usar uma linguagem simples com minha filha de oito anos sem ficar constrangida”, relatou a estudante de ensino médio Aldecina Oliveira, 32 anos. O jogo também ajuda a desmistificar valores. “O menino que sai de casa com camisinha no bolso ainda é visto como garanhão. Se é a menina que sai com o preservativo na bolsa, ela pode ser interpretada como promíscua”, ressalta a a coordenadora do projeto do Instituto Kaplan, Maria Helena Gherpeli. Aprendendo a Viver estará à venda a partir de 30 de novembro no Instituto Kaplan (rua Cardoso de Almeida, 1.717, Perdizes, São Paulo) por R$ 35.