Nas últimas seis décadas, o mundo foi palco de transformações profundas, que determinaram o modo como vivemos hoje. Da chegada do homem à lua, em 1969, à explosão das redes sociais, característica dessa década, culturas, ideologias e comportamentos mudaram em uma velocidade nunca antes vista. Durante todos esses anos, porém, algo permaneceu inabalável: a posição de Elizabeth II, do Reino Unido, como testemunha privilegiada da História. Desde 1952 ela ocupa o cargo de rainha da monarquia britânica, de onde pôde conhecer as grandes personalidades deste século e do passado. Agora, aos 89 anos, se prepara para um marco: no dia 9 de setembro, Elizabeth completa 63 anos e 216 dias no trono britânico, o que faz dela o monarca há mais tempo nessa função na História, superando a proeza até então alcançada apenas por sua tataravó, a rainha Vitória (1819-1901), que reinou de 1837 até sua morte.

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A façanha de Elizabeth parece ainda mais admirável pelo fato de ela não ter sido destinada originalmente a ser rainha da Inglaterra. Quando nasceu, em 1926, a pequena princesa era a terceira na linha de sucessão ao trono, atrás de seu tio Edward (1894-1972), e do pai, Albert (1895-1952), e poderia perder ainda mais posições caso Edward, que se tornou rei em 1936, tivesse filhos. Um capricho do destino, no entanto, selou o futuro de Elizabeth. Apaixonado por uma socialite americana divorciada, algo inaceitável para a época, Edward abdicou do trono por amor. Em seu lugar assumiu Albert, pai de Elizabeth, coroado como rei George VI, que reinou até seu falecimento, em 1952. A princesa, então, tornou-se rainha aos 25 anos.

Apesar da atual aparência austera e de representar uma instituição antiquada, Elizabeth trouxe um sopro de modernidade à monarquia. Sua coroação, em 1953, foi a primeira cerimônia real exibida pela televisão e acompanhada por milhares de pessoas em todo o mundo. A monarca também conseguiu unir a função de rainha à de mãe, numa época em que poucas mulheres trabalhavam. Em 53, ela já tinha o primogênito Charles, 66, e a princesa Anne, 65, e daria à luz aos príncipes Andrew, 55, e Edward, 51, nos anos subsequentes. A educação dos quatro filhos, aliás, foi realizada, por ordem da rainha, em escolas e não por professores particulares, quebrando um costume da realeza.

No final da década de 60, a fascinação pela família real havia crescido e Elizabeth decidiu estrelar um documentário sobre sua rotina, exibido em rede nacional em 1969, uma espécie de reality show de vanguarda. Os súditos ficaram extasiados com as revelações dos bastidores do palácio real, incluindo o fato de que a rainha guardava sobras de comida em potes plásticos, como qualquer mortal. A repercussão, no entanto, foi tão grande que a casa real ficou assustada e o documentário foi confiscado.

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A postura impassível da rainha frente a escândalos e polêmicas, porém, fez dela uma personalidade criticada. Após o trágico acidente de carro no qual morreu a princesa Diana (1961-1997), o povo britânico se queixaram da demora de Elizabeth em se pronunciar. Também pesou o fato de ela não ter ordenado que se hasteasse a bandeira da Inglaterra a meio mastro, um sinal oficial de luto. Seu comportamento enigmático, que não deixa transparecer fortes emoções, contudo, inspira respeito. Ao longo de todo o seu reinado, Elizabeth visitou incontáveis países, conheceu diferentes realidades e culturas e exerceu seu talento diplomático.

Prestes a completar 90 anos em 2016, a rainha não demonstra nenhum sinal de que deseja renunciar, o que pode ser uma má notícia para Charles, o sucessor ao trono britânico mais velho da história, mas é um bom estímulo para o orgulho nacional do país. “A Rainha Elizabeth II simboliza a longevidade do Reino Unido”, diz Eduardo Oyakawa, professor de filosofia da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), em São Paulo. “E, mesmo após o falecimento dela, a monarquia britânica como instituição continuará tão forte quanto a libra esterlina é hoje.” Se seguir os passos de sua mãe, Elizabeth, que faleceu aos 101 anos, ainda viveremos mais uma década sob o comando da rainha de mil faces.