Democratizar a moda está na moda. A cada dia um número maior de estilistas badalados coloca seu talento nos cabides de lojas populares. Fause Haten foi o primeiro ao desenhar para a Riachuelo e ao permitir que consumidores que dificilmente, ou jamais, teriam acesso a suas criações pudessem desfilar nas ruas com suas roupas. Karl Lagerfeld, renomado designer de grifes sofisticadas,
como Chanel e Fendi, criou uma coleção exclusiva para as populares Hennes & Mauritz. O lançamento da coleção do estilista para a cadeia sueca de lojas, com peças que custavam entre 15 e 150 euros, causou frisson em Paris, no final do ano passado. Filas quilométricas surgiram em frente às lojas. “Sou versátil e a moda também”, declarou Lagerfeld no site oficial da marca. Depois, foi a vez de Jean-Paul Gaultier desenvolver um projeto para a La Redoute, que faz vendas por correspondência. Agora, no Brasil, a tendência também se consagra. Walter Rodrigues acaba de finalizar sua primeira coleção para a C&A, uma das lojas mais populares do mercado brasileiro, voltada para o Dia das Mães. As estilistas Paula Raia e Fernanda de Goye, da badalada grife paulista Raia de Goye, também preparam uma linha mais acessível para a C&A, desta vez inspirada no Dia dos Namorados. “Depois de uma grande pesquisa, descobrimos muitos tecidos e priorizamos o acabamento. Só temos a ganhar com o prazer de ver mais gente usando nossas criações”, afirma Paula.

As coleções da C&A seguirão as opções
dos estilistas no que diz respeito a cores, modelagem e tecidos, realizadas dentro da previsão de custo feita pela loja. “É uma oportunidade de dar acesso ao público
da loja a criações mais elaboradas. É claro que o material é diferente. Pode não ser seda pura, mas será uma matéria-prima que mantenha o caimento das peças”, explica Cristina Munaretti, relações-públicas para compras da loja. O segredo de tudo está em transitar entre o sofisticado e o popular. Tarefa não tão difícil assim, já que o talento usado na criação será o mesmo. Enquanto as estrelas da moda entram com o nome e a criatividade, as cadeias de lojas entram com materiais mais baratos e o grande público. O preço, este sim, é bem diferente. A C&A, por exemplo, costuma comercializar peças que variam entre R$ 7 e R$ 150.

Diversificação – Outros segmentos da moda, além do de roupas, também já foram beneficiados pelos ventos democratizantes. Marcelo Sommer e Alexandre Herchcovitch diversificaram seu público ao juntar as suas grifes à marca Melissa. As sandálias de plástico, assinadas pelos estilistas, fizeram a cabeça e os pés de muita gente. Foram lançadas com preço mais alto do que o modelo comum, porém dezenas de vezes mais baratas do que as peças desenvolvidas pelos criadores. Lorenzo Merlino, que também faz parte do rol de estilistas brasileiros que surgiram nos anos 90, desenvolveu uma coleção de bolsas com a Le Postiche. O sucesso foi garantido. Agora, ele prepara uma coleção de jeanswear que será comercializada na Samed. As peças serão vendidas a R$ 200, o que ainda está longe dos bolsos da maioria dos mortais, mas a loja, localizada no Brás, em São Paulo, chega a vender 500 itens por dia. Uma realidade bem diferente da loja do estilista, que trabalha mais o valor por peça do que a quantidade de peças vendidas. “Acredito na democratização da moda há muito tempo. O conceito do designer é estendido a outra faixa da população, o que é justo. Afinal, o design não é exclusivo de quem tem mais recursos”, justifica Lorenzo.

O último São Paulo Fashion Week, maior evento de moda da América Latina, também deu sinais de abertura. Pela primeira vez, o público pôde entrar nos saguões da Bienal do Ibirapuera e assistir em telões gigantes aos desfiles que aconteciam a uma parede de distância. Há quem acredite que essa popularização acabará com o glamour. Outros dizem que o acesso desse novo público a coleções mais elaboradas mudará os conceitos da moda. O fato é que o movimento é mundial. Gigantes da indústria da moda encontraram nos estilistas consagrados a oportunidade de glamourizar seus produtos. Mas não se pode ter ilusões. Um vestido de Walter Rodrigues criado para a C&A nunca irá circular nas mesmas rodas que um vestido do estilista feito para a própria marca. De qualquer forma, bolsos e guarda-roupas agradecem ao novo negócio, cheio de estilo.