Poucas cenas são tão brasileiras. O sujeito encosta o corpo no balcão de fórmica do bar e pede uma cervejinha. As opções são as marcas de sempre, que disputam em candentes campanhas publicitárias a preferência do paladar nacional. Por ser consumida de forma tão corriqueira, a cerveja nacional se tornou sinônimo de bebida popular, ingerida em ritmo elevado, sem maiores pretensões. É preciso saber, porém, que o Brasil já fabrica cervejas de elaboração tão complexa quanto um bom vinho. Marcas artesanais, como a Devassa ruiva, Baden Baden Red Ale, Eisenbahn Dunkel e Bohemia Weiss, a única produzida em larga escala, têm a aprovação de quem entende.

Em visita ao Brasil, o mestre-cervejeiro Garrett Oliver da Brooklyn Brewery, uma das mais respeitadas fabricantes de cerveja de Nova York, comprovou a qualidade das loiras nacionais. “As cervejas da Eisenbahn são as melhores que provei até o momento. O Brasil, assim como os Estados Unidos, estão produzindo cervejas maravilhosas, tão boas quanto às fabricadas na Bélgica, na Inglaterra e na Alemanha”, afirma Oliver. A Cervejaria Eisenbahn foi inaugurada em 2002 em Blumenau, Santa Catarina, e produz a preferida de Oliver, a Eisenbahn Dunkel, vendida a R$ 4. Ao contrário das lager escuras nacionais que são adocicadas e escurecidas com caramelo, a Dunkel é feita com cinco diferentes tipos de maltes importados e torrados, que lhe conferem aroma e paladar forte e amargo.

Muito conhecida por quem visita Campos do Jordão, a Cervejaria Baden Baden é a mais popular entre as artesanais. Fundada em 1985 por quatro amigos, as cervejas são feitas com água das montanhas com quase dois mil metros de altitude.
A linha Baden Baden é composta pela Golden – suave e dourada, agrada o paladar feminino –, a Stout (preta), a Premium Bock (cobre) e a Premium Red Ale, considerada a melhor, por ser densa, encorpada, cremosa e de aroma marcante. Seu custo médio é de R$ 8.

Promessa – Outra cerveja que impressionou Oliver foi a carioca Devassa. “São bem-feitas e relativamente leves”, analisa Oliver. A produção artesanal acontece em uma área de mil metros quadrados, no bairro de Santo Cristo – região portuária no centro velho do Rio – desde agosto de 2004. É uma das maiores promessas do mercado. Possui 170 pontos-de-venda no Rio, um em São Paulo e oito em Londres, cuja aceitação é excepcional, com direito a uma citação no Sunday Times. São enviadas mil caixas por mês para Londres. Em Ipanema, o administrador do Shenanigan’s Irish Pub, Oswaldo Pateiro, conta que a cervejinha brasileira está roubando o espaço das irlandesas. “A Devassa tem me surpreendido. Não há propagandas e em um final de semana vendo 100 litros.”

A Devassa é elaborada a partir de maltes selecionados e importados. O malte é cozido em panelas gigantes. Depois é transferido para os tanques de fermentação durante sete dias, para permanecer mais sete em maturação. Pronta, ela é filtrada e engarrafada. Quem supervisiona tudo é a primeira mestra-cervejeira do País, Kátia Jorge. “É quase um trabalho de mãe e um resgate de antigas tradições, em que as mulheres eram as responsáveis pela elaboração da cerveja. É preciso degustar o tempo todo, cuidar mesmo com o máximo zelo.” A Devassa é produzida em três versões: a Loura Lager, é suave e refrescante, com sabor mais apurado que uma Pilsen comum. A Ruiva, ou Ale, mais encorpada, de cor avermelhada e cremosa. E a Negra, ou Dark Lager, somente na versão chope, é escura, cremosa e com aromas que lembram café, de amargor moderado. Em São Paulo, um dos proprietários do bar Frangó, Cássio Piccolo comercializa mais de 100 tipos de cervejas, do mundo todo. Ele elogia as brasileiras. “A Bohemia Weiss e Eisenbahn são bem preparadas, com ingredientes de primeira, com critérios de padrão e tipicidade”. A preferida de Piccolo, Bohemia Weiss é uma cerveja de trigo lançada, em edição limitada, em 2003. “O sucesso dessa edição especial demonstra que o consumidor brasileiro está preparado para receber novidades, por isso decidimos produzi-la continuamente”, afirma a gerente de marketing de Bohemia. Com um custo médio de R$ 4, esta cervejaria investe em um tipo de bebida originária da região sul da Alemanha, próxima a Munique. A cerveja de trigo é naturalmente turva e apresenta espuma densa e abundante, o malte é importado da França e seu lúpulo veio da Alemanha. Uma bebida refrescante com um leve toque frutado de banana e cravo, ideal para ser degustada em um copo de formato mais alongado, com parte superior mais bojuda do que os copos comuns para evidenciar a espuma densa. .