Os rapazes do Casseta & Planeta urgente! já se consideram veteranos da tevê. Há oito anos no ar, o humor iconoclasta do grupo tem garantido à Rede Globo entre 30 e 36 pontos de audiência nas noites de terça-feira e transformou seu elenco na menina dos olhos da emissora. Com a fama, vieram os salários generosos – ninguém revela, mas fala-se em valores que oscilam entre R$ 25 mil e R$ 70mil – e o maravilhoso mundo dos negócios. Dois CDs, sete livros, shows em empresas, site na internet com 30 mil acessos diários, bonés, mochilas, camisetas, cadernos da grife Casseta & Planeta e uma empresa para gerir os negócios, a Toviasu (Todos os Viados São Surdos). O faturamento anual, segundo o diretor, Manfredo Barnet, é de R$ 2 milhões. O grupo lança esse mês a linha de produtos O Maravilhoso Mundo da Babaquice. O primeiro gadget – objetos de utilidade relativa, mas que vendem – será uma mão fosforescente com dedos maleáveis. É um porta-peso. Outra surpresa é um carrinho acionado por controle remoto com encaixe para um rolo de papel higiênico. Eles também preparam para estrear no cinema, em 2002, Casseta & Planeta, o filme. Mas números, contratos e projetos sérios são com Manfredo. O que o grupo gosta mesmo é de falar bobagem, como nessa entrevista a ISTOÉ, durante uma tarde de gravação nos estúdios da Globo, no Rio de Janeiro, na segunda-feira 23. Marcelo Madureira não participou da conversa. “Ele está fazendo um boquete no Fábio Junior numa ilha do Caribe”, deduram os colegas.

ISTOÉ – Como anda o humor do brasileiro?
Bussunda – Depende de que brasileiro você está falando. Os gaúchos não andam muito bem-humorados. Pelo menos com a gente. Todos os boiolas de lá devem assistir às piadas de gaúcho gay do programa. (risadas). Recebi um e-mail de um gaúcho dizendo que é inveja porque eles são mais machos do que a gente. Eu sempre respondo aos telespectadores, mas pra esse cara eu não respondi.

ISTOÉ – Hoje as mulheres malham para ter a cintura reta. O modelo violão virou sinônimo de excesso de gordura localizada. O que vocês acham?
Bussunda – Eu fico impressionado é com o crescimento das popozudas. Na minha adolescência, elas não tinham a bunda enorme que as adolescentes de hoje têm. Cheguei à conclusão de que a bunda grande das mulheres faz parte da evolução da espécie. Só pode ser seleção natural.

ISTOÉ – O silicone preocupa?
Hélio – Dizem que alguns peitos você aperta e não voltam para o lugar. Aí é problemático.
Hubert – Se você não for um estripador, nunca vai ver o que tem dentro. Então tudo bem.
Bussunda – Nunca peguei para saber se a sensação tátil é diferente. Mas estou aí à disposição.

ISTOÉ – O grupo briga?
Hubert – Brigamos por causa de piada.
Cláudio Manoel – Outro dia rolou a maior discussão sobre uma piada de humor negro. É legal mostrar a vitória de um judoca cego e anunciá-lo como o atleta que não viu o ouro? Defendo o que acho engraçado e o povo é muito mais inteligente do que um certo preconceito das classes média e alta induz.

ISTOÉ – Pobre tem futuro no Brasil?
Reinaldo – Eu espero que tenha. As brincadeiras são uma maneira de lidar com essa realidade escrota, estúpida. Para não se desesperar você faz a piada. É importante estimular essa falta de respeito no bom sentido, não ficar endeusando nada nem ninguém.

ISTOÉ – Vocês assumem algum tipo de preconceito?
Hélio – Me incomoda muito ter que vestir a camisa do Flamengo para fazer uma cena. Sou Botafogo e tenho a maior ojeriza pelo vermelho e preto. Quando tem que colocar um crioulo popular no programa, ele tem sempre que vestir o uniforme do Flamengo. Fico puto porque cismam que todo preto tem que ser Flamengo.

Renato Velasco

Hélio e Bussunda, em Esculachos de familía
ISTOÉ – Cláudio Manoel e Reinaldo são os únicos do grupo que não têm filhos. Dá para ter moral com as crianças falando tanta bobagem?
Beto – Eu não tenho a menor moral com meu filho. Todos os pais são assim. Os filhos é que mandam na casa de todas as pessoas do mundo.
Bussunda – Tem a tática do falando sério. Como a gente faz piada o tempo todo, na hora que você diz que está falando sério dá medinho. E não condeno a palmadinha. Já dei uns três tapinhas na mão da minha filha. Ela chorou como se tivesse sido espancada ou torturada.

ISTOÉ – Como vai ser Casseta & Planeta, o filme?
Beto – Quando a Seleção Brasileira de futebol conquista o tricampeonato na Copa de 70, um grupo terrorista – formado, entre outros, por um vegetariano radical que explode açougues e um cantor frustrado que odeia a Jovem Guarda – rouba a taça Jules Rimet e os militares fazem de tudo para recuperá-la.
Cláudio Manoel – É uma brincadeira com os anos 70, quando o Brasil teve mais definido quem é bandido e quem é mocinho. É o nosso Vietnã. Uma época que nunca foi ironizada. Queremos lançar no meio de 2002.

ISTOÉ – Há outros projetos em andamento?
Cláudio Manoel – Vamos lançar no final do ano uma campanha mundial contra o pum no elevador. Ela terá um clipe com vários artistas da MPB, no estilo We are the world, e um megaevento ao ar livre – porque tem que ser ao ar livre – com várias bandas. Queremos a criação de áreas pumfree nos prédios residenciais e comerciais, shoppings e aeroportos. Todos os elevadores deverão ser arejados e equipados com câmeras de vídeo.
Hupert – É para filmar o sujeito que peida e fica vermelho. Esse é mau-caráter, filho da puta.
Reinaldo – E o que peida e sai logo depois do elevador?
Beto – Esse é o maior covarde, tem que ser linchado.
Cláudio Manoel – Vamos recolher os repolhos e ovos dos supermercados e desarmar a população.
Reinaldo – E cada ascensorista vai distribuir aos passageiros a rolha branca da paz.

ISTOÉ – Alguns atores encaram a propaganda como uma promiscuidade. Vocês se renderam a ela?
Cláudio Manoel – O lucro é até legal. O imoral é o prejuízo. Não vejo o trabalho como um sacerdócio. Não tenho essa postura auto-respeitadora, de reverenciar a mim mesmo. A gente vende o leitinho das crianças, dá o recado e tira uma graninha.

ISTOÉ – Casseta & Planeta urgente! é um dos poucos programas de humor que a Globo não se atreve a retirar da programação. Porque deu certo?
Bussunda – A televisão vive de idéias e não de estrelas. No limite não tinha nenhuma estrela e deu uma puta audiência. Nosso programa é uma boa idéia.
Hupert – A gente tenta o tempo todo fazer coisas novas. Não é fácil, mas não podemos reclamar porque o Brasil é um país muito bom para seus humoristas. Tem muito pagode, ladrão, corruptos.

ISTOÉ – Os políticos reclamam?
Hélio – Pelo contrário, as pessoas fazem fila para ser sacaneadas. Telefonam lá para casa. Achávamos que iria ser uma dificuldade arranjar um político que quisesse pagar um mico. Em Brasília, fazia fila de deputado querendo aparecer. Eles devem achar que estar envolvido numa piada passa simpatia.

ISTOÉ – Vocês encontraram resistências ao entrar para tevê?
Hélio – Só quem se incomodava por não sermos atores era o Chico Anysio. Ele nos criticava porque queria vaga para quem não era ator de verdade, que são os filhos dele.

ISTOÉ – Existe censura na Globo?
Hélio – A gente é meio despirocado mesmo, tem que ter uns caras para tomar conta. A questão não é a emissora. O público é que é conservador. A gente não quer chocar, quer fazer rir.
Cláudio Manoel – Podemos fazer piada com o presidente da República, mas temos que tomar cuidado com Jesus Cristo. Dependendo do caso, dá ou não dá para brincar. Piada de papa também é complicado. Quando o papa lançou um CD de salmos, a gente colocou ele cantando Segura o Tchan. Ficou meio pesado e não entrou. Mas é tudo negociado. A Globo sabe que um dos nossos papéis é ajudar a empurrar o limite para frente.