Não faz muito tempo que o sonho de toda jovem bonita e ambiciosa, disposta a acumular mais de sete dígitos na conta bancária, era se armar de um book e brilhar nas passarelas. As dotadas de boa memória e talento para viver outras vidas arriscavam também uma carreira nos folhetins globais, gerando a fúria das divas de plantão. Agora, a moda é outra. Modelos, e até mesmo atrizes como Luana Piovani, que comanda na MTV o despojado Tudo de bom, querem mesmo é ser apresentadoras de tevê. São loucas por um sofá e não se incomodam em ser comparadas com a rainha de todas, Hebe Camargo. Na segunda-feira 30, Adriane Galisteu estreou seu É o show com Adriane Galisteu, na Rede Record, programa de variedades que vai ao ar de segunda a sexta-feira às 21h30. Sua vaga na Rede TV!, onde conduzia o Superpop, gerou uma competição temperada de muitas caras e bocas. Pelo menos dez belas mulheres, entre elas Luciana Gimenez e Fabiana Saba, vêm se revezando nos corredores da emissora para conseguir o posto da loura. Livre de stress parecido, Sabrina Parlatore comanda desde a última semana de outubro Território livre, versão urbana de No limite, de segunda a sexta-feira, às 18h, na Rede Bandeirantes.

Edu Lopes
Babi, Soninha e Sabrina: as ex-apresentadoras da MTV ganharam
seus próprios programas.

Feliz da vida com os picos de 11 pontos que obteve na estréia, Adriane Galisteu, 27 anos, acredita que seu sucesso vem do fato de não se esconder em personagens. Ela é ela mesma. “Consegui meu espaço falando a verdade e o que penso. Não tenho nickname. Xuxa na realidade é Maria da Graça Meneghel. Eu sou Adriane no ar e nas ruas.” Esta mudança começou a dar os primeiros sinais com as sorridentes e insinuantes VJs da MTV, que cativavam pela informalidade e ar de “girl next door”. Uma das mais bem-sucedidas desta geração, Sonia Francini, 33 anos, a Soninha, à frente do RG – programa de auditório que vai ao ar pela Rede Cultura de segunda a sexta-feira, às 16h30 –, enxerga mais nuanças. Para ela, estas atrações televisivas podem ser uma vitrine muito mais interessante que uma novela. “O espaço é todo seu. São quatro câmeras voltadas para você. Coadjuvantes são os outros.”

Silvana Garzaro

Economia – Do lado das emissoras, voltar as lentes para uma estrela apenas acaba sendo um negócio vantajoso. Na ponta do lápis, fica obviamente mais barato pagar altos salários a uma apresentadora e, na soma final, economizar nos gastos de praxe das grandes produções. De um modo geral, produzir shows do gênero consome em um mês uma quantia inferior a três capítulos de novela da Rede Globo, hoje em torno de R$ 90 mil cada. Tem-se um cenário fixo, cinco câmeras no máximo e despesas fáceis de ser controladas com o time de convidados. Às vezes, este custo pode ser mínimo, como é o caso de Tudo de bom, de Luana Piovani, 24 anos. Baseada em Nova York, ela faz um tour pelos pontos pitorescos da cidade, entrevista notáveis e mostra um pouco do seu cotidiano. “Ser apresentadora virou uma tendência fashion, mas eu quero pirar.” Entre suas idéias extravagantes está a coragem de se vestir de ninja e exterminar os ratos de seu apartamento, localizado em Manhattan, no chamado Hell’s Kitchen.

Julio Vilela

Como Luana, que por ora abriu mão de sua carreira global, Anna Bárbara Xavier, a Babi, 25 anos, chegou a fazer parte do elenco de Por amor, em 1997. Mas só deslanchou a carreira como a descalça cool do MTV erótica. Seu charme conquistou até o veterano Silvio Santos, que a presenteou com o Programa Livre. “Na verdade, este novo filão é uma consequência da guerra de audiência e da concorrência da TV a cabo”, explica Babi. A disputa gerou uma demanda por novos talentos no mercado. O jornalista e produtor de tevê Nelson Hoineff, autor de A nova televisão, acha o fenômeno bastante previsível. “A tevê aberta é muito imitativa. É só aparecer um programa que dê certo e surgem n clones dele. Isto acontece em tudo. Se o Guga se destaca num jogo, no dia seguinte todo mundo quer ser tenista.” Faz sentido. Walter Scaramuzzi, ex-diretor do Superpop e agora um dos responsáveis pelo Domingo legal, do Gugu, lembra que logo depois da saída de Adriane, em setembro, foi procurado por mais de 30 candidatas, boa parte desconhecida. “As garotas olham para Adriane e pensam: ela fez, eu vou fazer também.” Mas Scaramuzzi adverte que não é bem assim. Segundo ele, não basta ser bela. Tem que saber improvisar, ter raciocínio rápido, estar bem informada e acima de tudo ter carisma, o que nenhum curso dá.

Nelson Veiga/André Durão
Luciana e Susana: a dupla de modelos foi cogitada para substituir Adriane no Superpop, da Rede TV!

Saia-justa – Entre as jovens sondadas pela Rede TV! estavam a cantora Ivete Sangalo, que demonstrou ter habilidades para a função ao substituir Xuxa num de seus programas. Susana Werner, que dividiu com Luciano Huck o comando do H na Rede Bandeirantes, e hoje apresenta o Su-real, na Sportv, também foi lembrada, mas declinou. “Não acho que estou preparada. Tem que ter muito jogo de cintura para dominar situações inesperadas. No H nunca passei por saia-justa, mas não dormia nem comia direito.” Há 30 anos na atividade, o preparador de atores Beto Silveira vem sendo frequentemente procurado por beldades, todas loucas por um sofazinho na tevê. Elas vão atrás das manhas de conduzir bem uma entrevista sem se atrapalhar com o microfone ou o ponto eletrônico. Não são apenas aspirantes que recorrem às suas lições. Ana Maria Braga aprendeu com ele a interpretar as crônicas de Carlos Heitor Cony. Eliana também passou por seu estúdio, em São Paulo. Ele as ensina a olhar para a câmera e fixar num interlocutor imaginário. “Aconselho que mentalizem um garoto de 12 anos do interior do Piauí, Estado onde nunca fui.”

Improviso – Adriane, ao contrário, não acredita em receitas. “Não se faz apresentadora com cursos. Ou você sabe, ou não sabe. Quando erro, assumo a falha e quem está em casa acha legal.” Ela lembra com humor que uma vez, ao entrevistar o ator Jonas Bloch, cometeu uma série de gafes seguidas, como perguntar pela estréia do seu novo filme e ele responder que estava em cartaz com uma peça de teatro. Adriane começou a rir. Depois recebeu muitos e-mails elogiando sua espontaneidade. Mesmo “engatinhando” no ramo – estreou na tevê em 1996 –, Adriane pensa alto. Em dois anos, no máximo, quer ter um programa ao vivo no domingo, com quatro horas de duração. Diz que sua intenção não é ser uma apresentadora, mas uma comunicadora como Hebe, “a poderosa”. Comunicadora, ensina Adriane, é aquela que improvisa o tempo todo. Para se colocar à prova, entrevistou no primeiro programa Eliana, a namorada de seu ex-, o publicitário Roberto Justus. Sem a menor cerimônia, perguntou a ela se é verdade que Justus não vai permitir que beije nenhum ator em seu primeiro filme. Eliana respondeu que o namorado é um publicitário muito inteligente, como se Adriane não o conhecesse bastante na intimidade.