Um estudo publicado esta semana na revista científica Nature surpreendeu a comunidade científica e pode mudar o conceito de Gregor Mendel, que no século XIX desvendou a genética estudando as ervilhas. Em experimentos feitos com a planta Arabidopsis, uma espécie de rato de laboratórios de botânica, pesquisadores descobriram que ela é capaz de corrigir automaticamente genes defeituosos herdados de seus “pais” e se mostrarem geneticamente saudáveis. O que se sabe é que a herança genética é passada via DNA e que eventuais problemas com os genes poderiam ser corrigidos por proteínas que usam uma das fitas sãs de DNA como exemplo. De modo geral, as células têm mecanismos de controle das mutações, mas para isso as proteínas precisam de um molde (a fita de DNA sadia) para copiar as informações corretas.

Na experiência eles mudaram fisicamente um gene e a sua cópia. Cerca de 10% dos descendentes voltaram para o estado original, antes da mutação. Foram levantadas várias hipóteses. A mais aceita é de que a célula manteve um estoque de RNA (molécula intermediária que passa as informações genéticas contidas no DNA para as proteínas agirem) com informações originais. É uma cópia do gene não presente no DNA. Não se sabe ainda como isso acontece e em que momento esse mecanismo é ativado. Mas a expectativa é grande. Se comprovado o novo papel do RNA e se for possível ativar o mecanismo de correção, seria um ótimo passo para tratar as doenças genéticas. “Existe reversão natural, mas não num nível tão elevado como esse. Ela é muito alta para ser mero acaso”, diz Mariana Cabral de Oliveira, do departamento de botânica da Universidade de São Paulo (USP).