Dizia-se em Nova York que Rudy Giuliani seria capaz de eleger até mesmo uma zebra para substituí-lo. Da teoria à prática: com o apoio decisivo de Giuliani, o empresário de comunicação Michael Bloomberg, 59, foi eleito o 108º prefeito da cidade. Ou seja: deu zebra. Há menos de 60 dias, o candidato democrata – qualquer um dos quatro que concorreram nas primárias do partido – era considerado uma barbada. Afinal, a cidade tem seis democratas em cada dez eleitores. Some-se a isso o fato de que Giuliani vinha tropeçando em doença (câncer na próstata), escândalos (romance extraconjugal e separação) e desgaste de sua política (administração autoritária e violência policial). No dia 11 de setembro, este panorama mudou dramaticamente com os ataques terroristas que demoliram parte da baixa Manhattan. Dos escombros do World Trade Center emergiu um Giuliani estadista, competente e corajoso, em meio à crise e tragédia. Bloomberg pegou carona nessa onda, surfando sobre uma plataforma desconhecida, mas que prometia continuar o trabalho de seu antecessor. Consolidou sua posição com gastos que atingiram além dos US$ 50 milhões. Pagou do próprio bolso, que contém estimados US$ 4 bilhões.

A cidade tem 4,2 milhões de eleitores registrados, mas apenas 1,4 milhão compareceu às urnas. E nessa ausência está outro dos apoios inestimáveis que o novo prefeito recebeu. As brigas intestinas no Partido Democrata custaram caro ao candidato Mark Green. Nas primárias do partido, Green entrou em choque com outro candidato, o representante do Bronx, Fernando Ferrer, que tinha o apoio da população latina e dos negros. Green acusou Ferrer de ser divisionista, enquanto Ferrer pintou Green como racista. Foi o suficiente para secar a fonte de votos das minorias raciais. Enquanto Bloomberg despejava uma enxurrada de comerciais contra seu rival, os democratas trocavam sopapos. Tamanha foi a briga, que o prefeito eleito cumpriu uma promessa de campanha e já no dia seguinte às votações foi almoçar numa lanchonete populista com Fernando Ferrer. E este entendimento tem explicação: Bloomberg, até o ano passado, era democrata de carteirinha. Virou casaca para ser indicado mais facilmente pelos republicanos.

O milionário Bloomberg é filho de classe média da Nova Inglaterra e considerado um prodígio no mundo das finanças. Tornou-se sócio júnior da empresa financeira Solomon Brothers. Em 1981, quando a firma foi vendida, ele recebeu US$ 10 milhões de compensação, que lhe serviram de capital inicial para montar o império de comunicação que preside. São cerca de 8 mil funcionários na sua folha de pagamento multinacional. Em troca do emprego, Bloomberg exige máxima lealdade e um controle de movimentos de cada pessoa em seus domínios. Nos escritórios da Bloomberg em Nova York, um sofisticado sistema de leitura de cartões magnéticos aponta cada passo dos empregados. E uma rede de câmeras de tevê fornece as imagens das andanças dos trabalhadores. O mesmo esquema de vídeo foi prometido em campanha para a ilha de Manhattan. Bloomberg quer implantar o Big Brother na prefeitura. E, mesmo ganhando dinheiro com notícias, diz que não vai dar entrevistas coletivas diárias como fazia seu antecessor. Rudy Giuliani vai deixar saudades.