Foi uma visita rápida, mas com agenda cheia na quarta-feira 23, que incluiu reuniões tensas no Ministério da Defesa, uma audiência com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Palácio do Planalto e uma visita ao maior centro de controle do Sivam, em Manaus. Na Amazônia, Donald Rumsfeld, secretário de Defesa dos EUA, conheceu a fusão entre a tecnologia americana, fornecida pela Raytheon, e a brasileira, como os aviões-radar da Embraer, e se declarou “impressionado”. No fim da tarde, o homem que comanda o Pentágono seguiu viagem para a Guatemala. O saldo de seu périplo sul-americano, que incluiu uma passagem por Buenos Aires na terça-feira 22, foi pequeno. Na Argentina, ficou em conversas sobre cooperação nas áreas da pesquisa espacial e de mísseis, retomada de exercícios militares conjuntos e implantação de um sistema de radares e controle do espaço aéreo semelhantes ao Sivam brasileiro. Soube que haverá uma licitação internacional, para evitar escândalos como na época do ex-presidente Carlos Menem.

Por aqui, Rumsfeld tentou vender a idéia de que a Tríplice Fronteira entre Brasil, Paraguai e Argentina, na região de Foz do Iguaçu, seria “um foco de terrorismo”. Os militares brasileiros ouviram, mas encararam o caso como uma tentativa de fazer o Brasil se preocupar menos com a Amazônia, para onde cada vez mais tropas de elite estão sendo transferidas, dentro de uma política de defesa da região. Nas conversas, Rumsfeld também criticou o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, e enfatizou as preocupações americanas com o tráfico de drogas, especialmente na Colômbia, onde os EUA já mantêm mais de seis mil “assessores militares”. Usando seu lado “simpático”, o americano elogiou em coletiva o falecido Sérgio Vieira de Mello, morto em atentado terrorista no Iraque em 2003, e aprovou com entusiasmo o desempenho internacional do Brasil no comando da Missão das Nações Unidas de Estabilização do Haiti (Minustah). “O Brasil deve ter orgulho de sua liderança regional. Os EUA e os demais países do hemisfério estão agradecidos ao Brasil pelo seu papel na busca da estabilidade política da região”, afirmou ao lado do dublê de vice-presidente e ministro da Defesa, José Alencar.

Donald Rumsfeld elogiou o desempenho do Brasil no Haiti, onde, de acordo com o general brasileiro Augusto Heleno Pereira, a situação está sob controle, depois das mortes, há uma semana, de dois soldados das forças multinacionais (um nepalês e um singalês). Os incidentes serviram para lembrar do risco de que, em outra ocasião, as vítimas possam ser alguns dos 1.200 soldados brasileiros da Minustah. O risco de vida, em missões de paz como no Haiti, onde as tropas ficam no meio do fogo cruzado entre uma polícia violenta e bandos armados, é uma realidade, segundo diplomatas e militares. Seria o preço, alto é verdade, a ser pago pelo Brasil por assumir uma posição de destaque no cenário mundial. “Quem pretende um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU tem que mostrar liderança e aceitar missões difíceis”, lembra um alto funcionário do Itamaraty.

A vaga de membro permanente parece cada vez mais próxima do Brasil. No começo da semana, o secretário-geral da ONU, Kofi Annan, apresentou seu projeto para o novo Conselho de Segurança, que teria mais oito membros permanentes. Os grandes favoritos às vagas são Brasil (que já coleta quase uma centena de apoios formais), Alemanha, Japão, Índia, África do Sul e Nigéria.