Osama Bin Laden, George W. Bush e Yasser Arafat juntos? Miragem? Delírio? Loucura? Nada disso. O surreal encontro acontece diariamente na esquina da Ladeira Porto Geral com a minúscula rua Varnhagem, centro de São Paulo. A face ameaçadora do terrorista passa horas encarando Bush. Um tenso Arafat só observa. A centímetros dali, outro Bin Laden, de chapéu de Papai Noel, anuncia a chegada do Natal. É claro que tal cena é tão verdadeira como uma nota de R$ 3. O final do ano e o Carnaval estão aí. O brasileiro precisava de algo novo e original para cair na farra. As máscaras dos protagonistas da crise chegaram em ótima hora.

Bin Laden é a bola da vez. Além de máscara de carnaval, virou garoto-propaganda de uma loja de panela de pressão, correu a internet em centenas de piadas e, acreditem, foi homenageado por um pai que pretende dar seu nome ao filho recém-nascido. Até o dia 11 de setembro, o milionário saudita era uma personalidade praticamente anônima. Agora, virou uma figura popular. O terrorista já desponta como o rosto mais famoso do próximo Carnaval. “Estamos sobrecarregados de tanto trabalho”, comemora o artista plástico catalão Armando do Valles, 60 anos, dono de uma das maiores fábricas de máscaras do País.

Radicado no Brasil, Valles é dono da Condal Indústria e Comércio. É da sua fábrica de máscaras em São Gonçalo, no Rio de Janeiro, que ele abastece as principais lojas do País. Bin Laden chegou acompanhado nas prateleiras do comércio pelo arquiinimigo George W. Bush. Pelo menos no front comercial, Bush está perdendo para Bin Laden. “Todos querem comprar a máscara do terrorista, mas a do Bush ninguém quer levar para casa”, comenta Valles. A Casa Turuna, a mais tradicional loja de artigos carnavalescos do Rio, chega a vender por dia 25 máscaras de Bin Laden, contra apenas duas de Bush. São duas as versões do terrorista saudita: uma mais cara, com turbante feito de algodão e barba de acrílico, e outra mais simples, só de plástico. Uma custa R$ 15 e a outra, R$ 4,80. Desde que começou a confeccionar as duas máscaras, Valles já vendeu cinco mil no comércio varejista.

A maior procura aconteceu no Halloween, o dia das bruxas, uma das maiores festas americanas, comemorado no dia 31 de outubro. “O povo gosta de tragédia” diz Maria da Assunção, 40 anos, gerente da Festas e Fantasias, na Ladeira Porto Geral, em São Paulo. A loja apresenta uma novidade: o kit Bin Laden. Além da máscara, é possível também comprar o traje militar que o terrorista tem usado nas suas aparições à Al-Jazeera, do Qatar, a única tevê do mundo com acesso direto a ele. Os dois modelos de máscara, uma com a barba mais negra e a outra mais esbranquiçada, custam R$ 2. A roupa sai por R$ 38. Até o início da semana, a loja, que também fabrica suas fantasias, havia registrado a venda de mais de 600 máscaras e 85 modelitos Bin Laden.

Bico – A indústria da fantasia não é a única a lucrar com a imagem do bilionário saudita. Em Brasília, o empresário Roberto Cabral usou a imagem do chefe da Al-Qaeda para fazer a propaganda de sua loja de consertos de panela de pressão. “Cuidado, sua panela pode explodir”, diz Bin Laden, fazendo um “bico” para o Hospital das Panelas. Cabral garante que o movimento aumentou 70% depois do outdoor. “Espero que americanos e os talebans não me levem a mal. É só uma brincadeira”, diz o marketeiro.

Mas não é só aqui que Bin Laden teve a sua imagem explorada para fins lucrativos. Seguindo o exemplo de Cabral, o empresário chileno Eduardo Arévalo lançou uma marca de vinho e uma linha de produtos de higiene com o nome do terrorista. De acordo com ele, a inspiração veio do Brasil. Até a torcida brasileira resolveu aderir à brincadeira. Na quarta-feira 7, o comediante Cacá Rosset fez uma enquete para o programa Esporte Total Debate, da Band, querendo saber dos paulistanos qual seria o resultado do jogo Brasil e Bolívia. Ao ser questionado, um torcedor pedia a escalação de Bin Laden no ataque da Seleção. “Pelo menos ele sabe atacar” , justificava o gozador.

Osama no Embu?

Jaqueline. Vai pegar a chupeta do Bin Laden!” Essa é a mãe, dona Cida, gritando para a filha acudir o pequeno Osama Bin Laden Feliciano de Oliveira Soares. O bebê nasceu no dia 8 de outubro. O nome foi dado pelo pai, o agricultor Osvaldo de Oliveira Soares. A juíza Alena Cotrim, do Fórum do Embu, na Grande São Paulo, não permitiu o registro. Osvaldo vai recorrer.

ISTOÉ – Por que o sr. deu o nome de Osama Bin Laden ao seu filho?
Osvaldo – Eu acho o nome bonito. Resolvemos dá-lo antes dos atentados. Eles dizem que o Osama é terrorista. Mas e as provas? Até agora não vi nada. No Iraque (Osvaldo trabalhou no país entre 1978 e 1983 como motorista de uma empreiteira brasileira) ele era respeitado por ser uma pessoa séria.

ISTOÉ – O sr. tem alguma coisa contra os Estados Unidos?
Osvaldo – Um patrão americano que tive quase acabou comigo. Certa vez fui pegá-lo no aeroporto. No outro dia, a polícia me parou e encontrou um pacote com maconha e cocaína deixado por ele embaixo do banco. O delegado não acreditou que aquilo era meu. Quando foram interrogar o americano, ele disse que não falava português. Mentira! Ele morava aqui havia seis anos. Depois confessou. Foi extraditado. Os americanos acham que são a polícia do universo. Mas não tenho ódio deles.