A briga entre os sócios do maior laboratório da América Latina, com um faturamento anual superior a R$ 650 milhões, virou literalmente caso de polícia. Há duas semanas, ISTOÉ revelou que os acionistas do Aché Laboratórios Farmacêuticos S.A. estavam em pé de guerra. Os irmãos Carlos Eduardo e José Luiz Depieri acusam o sócio Adalmiro Baptista de registrar uma ata falsa na Junta Comercial para que mantivesse sozinho o controle do grupo. O documento retrataria uma reunião de acionistas ocorrida às 10h de 26 de julho na sede da empresa. Baptista nega. Segundo ele, os Depieri é que teriam tentado registrar uma ata relatando uma reunião que não ocorreu. Na sexta-feira 9, o advogado Cid Vieira de Souza Filho encaminhou ao Ministério Público de São Paulo um laudo elaborado pelo perito Ricardo Molina Figueiredo que põe fim à dúvida. De acordo com o perito, a ata registrada por Baptista relata uma reunião impossível de ter sido realizada, pelo menos da forma como está descrita no documento. Molina esteve na sede do Aché, examinou os computadores da empresa, os registros eletrônicos que armazenam entradas e saídas de funcionários e também as imagens gravadas pelas câmeras de vídeo instaladas na portaria do laboratório. O laudo de 23 páginas é conclusivo. Baptista e mais duas pessoas que assinam a ata polêmica não teriam, em hipótese alguma, tido tempo de participar da reunião, elaborar a ata, assiná-la e deixar a empresa às 10h27, como acusa o registro eletrônico dos crachás. Há 15 dias, Baptista explicou a ISTOÉ que o horário registrando sua saída da empresa não poderia ser considerado, pois ele havia emprestado o crachá para que outra pessoa passasse pela portaria. Nas fitas de vídeo, Molina encontrou a imagem de Baptista deixando a empresa às 11h27m31s. “A imagem registra essa saída com mais de uma hora de diferença, devido a um erro no relógio interno. O horário certo é 10h27m31s, como registra o crachá eletrônico”, explica o perito.

“Ultrapassamos o limite de uma simples divergência entre sócios. Estamos sendo vítimas de um crime de falsidade ideológica. Isso traz prejuízo e o responsável precisa ser punido”, diz Carlos Eduardo Depieri. A briga que a falsa ata esconde se dá em razão de um negócio milionário. Baptista acusa os Depieri de não apurarem e punirem os responsáveis por uma falcatrua ocorrida em uma das empresas do grupo Aché, durante o ano passado. Ele afirma que agora os sócios estão querendo vender a empresa para evitar uma investigação mais profunda. O Grupo Aché é dono de 42% das ações dos laboratórios Schering Plough dos Estados Unidos, que têm interesse em ficar com essas ações e apresentou uma proposta milionária. Se não entrarem em um acordo, é bem provável que os americanos desistam de qualquer negociação e parte do Aché vire apenas um galpão cheio de máquinas sem ter o que produzir.