Um clima de perplexidade pairava sobre Porto Alegre por volta de 23h de segunda-feira 5, depois que o economista Diógenes de Oliveira interrompeu seu depoimento de oito horas na CPI da Segurança Pública da Assembléia Legislativa, acometido de pressão alta e taquicardia. Os deputados investigam as relações do governo gaúcho com o Clube de Seguros da Cidadania, presidido por Diógenes. Dias antes, a CPI mostrou CD com um diálogo, de fevereiro de 1999, entre o economista e o então chefe de polícia do governo petista, Luiz Fernando Tubino. Na conversa, Diógenes, que dizia falar em nome do governador Olívio Dutra e do PT, tentava convencer o delegado a não reprimir o jogo do bicho, porque o partido mantinha boas relações com os bicheiros. Depois, o economista alegou que praticara “uma bravata” e não se referia aos banqueiros, “mas a simples apontadores do jogo, gente do povo, que reclamavam do assédio de policiais”.

Durante a campanha de Olívio Dutra, Diógenes tinha a missão de buscar fundos junto a empresários e o clube foi usado para captar as doações empresariais para o PT, que acabaram resultando na aquisição da sede do partido. O clube só existe no papel. Sua sede está embutida nos escritórios da Condor Corretora de Seguros, de propriedade do petista Daniel Verçosa Gonçalves. Apesar de ter recebido oficialmente R$ 300 mil em doações, de um total de R$ 325 mil de recursos obtidos em 1998, os números não fecham. O clube adquiriu a sede do PT em 1998 por R$ 310 mil, em prestações que foram quitadas até dezembro daquele ano. A CPI, no entanto, comprovou que a entidade não dispunha, quando da compra do prédio, dos R$ 50 mil pagos como entrada, porque o grosso das doações foi feito depois deste pagamento. Em seu depoimento, Diógenes afirmou que foi feito ao clube um “empréstimo mútuo” no valor de R$ 80 mil, por simpatizantes petistas. O economista disse que guardava os comprovantes em sua casa. Os deputados não esperaram pela recuperação de Diógenes e, com um mandado de busca e apreensão, foram à sua casa e recolheram documentos. Desse empréstimo alegado, havia nove recibos datados de 31 de julho de 2001, preenchidos por Diógenes, cujos valores, somados, chegam a R$ 32 mil. Nos recibos, os emprestadores, militantes petistas, declaram que fizeram o empréstimo, em dinheiro, em 15 de junho de 1998 e foram ressarcidos pelo clube em dezembro do mesmo ano. Como o valor do empréstimo declarado por Diógenes foi de R$ 80 mil, não há comprovação de R$ 48 mil.

Uma das doações ao clube, em 1998, no valor de R$ 20 mil, chegou a ser negada pelo doador, a Marcopolo, que fabrica carrocerias de ônibus e caminhões. Um erro involuntário, segundo Diógenes, que disse que a doação na verdade foi feita por José Klieman, diretor da Marcopeças, uma subsidiária da Marcopolo, em seu nome pessoal. Infelizmente, Klieman não pode confirmar a versão do presidente do clube. Ele morreu em 1998. Os deputados descobriram, ainda, que um cheque de R$ 20 mil do clube, assinado por Diógenes, foi depositado na conta de Juares Motta de Paula, em 1º de outubro de 1998. Hoje, Juares trabalha na segurança do governador. Alguns meses antes de receber os R$ 20 mil, Juares adquiriu um Monza ano 90 e um Logus 96. Na quinta-feira 8, um sobrinho de Daniel Verçosa, Silvio Gonçalves Dubal, declarou à CPI que a doação de R$ 500 que ele fez ao clube em outubro de 1998 era “fria”, feita a pedido de uma secretária de Diógenes de nome Janice.

Cada vez mais, pesa sobre o clube a suspeita de lavar dinheiro de contribuições de barões do jogo do bicho feitas para a campanha de Dutra.