Uma articulação de bastidores colocou nas mãos do bloco governista o destino da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que vai apurar denúncias de irregularidades no Banco do Estado do Ceará (BEC), no período de 1995 a 1998, durante o primeiro mandato do governador Tasso Jereissati. Um acordo político entre o PSDB e o PPS, partido do candidato à Presidência Ciro Gomes, selou a escolha de aliados de Tasso para as duas principais funções da CPI: os deputados Mauro Filho (PPS), como presidente, e Manuel Veras (PSDB), como relator.

Entre os dois partidos, teria sido negociada, por exemplo, a retirada do requerimento do deputado governista Moésio Loiola, que previa a investigação do BEC desde a sua criação. Para muitos parlamentares da oposição, pura provocação do governo, pois o pedido significava uma ameaça velada de investigar a administração do banco no período em que Ciro Gomes foi governador do Ceará (1991 a 1994). Na Assembléia, muitos parlamentares estão convencidos que a troca de favores foi mais longe. Como parte do entendimento, teria sido aberta uma vaga na Câmara dos Deputados para o suplente de deputado federal Mauro Benevides (PMDB), pai de Mauro Filho, presidente da CPI, com a nomeação de Antônio Cambraia (PSDB) para a Secretaria de Turismo do Estado.

O acordo teria sido costurado depois que a oposição na Assembléia Legislativa derrubou o veto do governador Jereissati à mensagem de reajuste aos servidores públicos estaduais. Além disso, tirou da geladeira e aprovou o pedido de instalação da CPI do BEC. Sem saída, o governo teria, então, recorrido ao PPS para ampliar sua base política no plenário. Mais que isso, ficar em posição estratégica durante a investigação de irregularidades no BEC, que teriam produzido um rombo financeiro de R$ 954 milhões, mais de cinco vezes o patrimônio líquido do banco hoje, e beneficiado empresas com empréstimos generosos e perdões de dívidas, através de operações sob suspeita.

Num dossiê de 150 páginas, as denúncias contra o Banco do Estado do Ceará foram reunidas pacientemente, nos últimos cinco anos, pelo autor do pedido de CPI, o deputado João Alfredo, do PT. Para justificar o pedido de investigação, uma pilha de documentos, todos com selo de autenticação em cartório e muitos com carimbo de confidencial. Recheio explosivo para uma CPI que promete, principalmente pela proximidade das eleições de 2002. Fora dos cargos importantes da CPI, Alfredo já sabe o que fazer: “Vamos fazer um relatório paralelo para impedir que isso acabe em pizza.” Para o deputado estadual, provas, como os relatórios do Banco Central, da Secretaria Estadual da Fazenda e do Tribunal de Contas da União, são abundantes. “Dificilmente, durante o processo, a verdade deixará de aparecer.”


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