Ao depor no Ministério Público no dia 22 de outubro, o ex-prefeito Paulo Maluf, sua mulher Sylvia, seus quatro filhos (Flávio, Otávio, Lina e Lígia) e sua nora Jaqueline responderam exaustivamente que não tinham “nada a declarar” sobre os US$ 200 milhões depositados na Suíça e na Ilha de Jersey, paraíso fiscal no Canal da Mancha. Mas os promotores continuam em busca de provas. Na Procuradoria Geral do Cantão de Genebra a situação de Maluf será mais complicada. O procurador Jean Louis Crochet, com documentos que tem em mãos, não vai se contentar com um evasivo “rien à déclarer” (nada a declarar).

A investigação suíça já entrou na segunda fase, com abertura de um processo de instrução para apurar as movimentações financeiras do ex-prefeito e de seus familiares naquele país e definir se elas caracterizam lavagem de dinheiro. A papelada saiu das mãos de Crochet e passou para as do juiz Claude Wenger. Dependendo do parecer de Wenger, Maluf – que responde a dezenas de processos no Brasil – terá de se explicar também em Genebra. O fax informando a abertura do processo suíço (nº 11087/01) chegou ao MP paulista no dia 1º de novembro. Segundo os promotores, a abertura do processo significa que os suíços já têm como provar a existência das contas naquele país. Além disso, funcionários do consulado brasileiro que conhecem Crochet dizem que ele só dá prosseguimento às investigações quando está convencido de que tem um caso nas mãos.

Em setembro deste ano, a polícia suíça enviou um ofício ao Conselho de Controle de Atividades Financeiras (COAF) do Ministério da Fazenda declarando a existência de contas em nome da empresa Red Ruby – cujos beneficiários seriam Paulo Maluf e seus familiares – no Citibank de Genebra. O ofício informava ainda que, em janeiro de 1997, os valores foram transferidos para a filial do banco na Ilha Jersey. Depois disso, segundo ISTOÉ apurou, o dinheiro fora transferido novamente. Desta vez, para a filial do banco Deutsche Morgan Grenfell. O responsável pelo gerenciamento dos US$ 200 milhões depositados no paraíso fiscal do Canal da Mancha seria o palestino Hari Bin al-Kalouti, ex-funcionário do Citibank e amigo do advogado suíço Jacques Wittmer, do escritório Schellenberg Wittmer. Eles têm, além de Maluf, uma carteira extensa de clientes brasileiros. Os advogados brasileiros do ex-prefeito alegam que seu cliente não tem conta alguma na Suíça, nem em Jersey, e que “até agora não surgiu uma única prova”.