São nada menos que 100 gravuras do catalão Joan Miró (1893-1983), um dos artistas plásticos mais importantes do século XX. A coleção, que integra o acervo do Museu Reina Sofía, de Madri, começa a ser exibida na segunda-feira 12 na mostra Miró gravador, no Centro Cultural da Caixa Econômica Federal, em Brasília, como mais uma etapa da programação artística desenvolvida pelo governo da Espanha para o Brasil. Segundo o embaixador espanhol José Coderch, por enquanto o evento está restrito a Brasília, mas ele espera conseguir exibir as obras em outras cidades brasileiras. “Quanto mais gente vier, mais argumentos terei para seguir adiante com a exposição”, afirma o embaixador. Ele, que está no Brasil há apenas seis meses, guarda na memória as filas de brasileiros para ver a mostra De Picasso a Barceló, realizada na Pinacoteca do Estado, em São Paulo, e espera que Miró gravador desperte o mesmo entusiasmo.

Qualidade, com certeza, não falta. Mais conhecido como pintor e escultor, Miró já era artista famoso quando, aos 35 anos, fez suas primeiras incursões pela gravura. Guardava antecedentes genéticos, pois vinha de uma tradicional família de artesãos. Mas desde o começo decidiu que sua abordagem da gravura teria características distintas, da mesma forma que sua pintura. “A gravura para mim é um meio de expressão superior. Foi um meio de liberação, de expansão, de descobrimento”, afirmou ele, certa vez, ao escritor Jacques Dupin. Dominando todas as técnicas daquela expressão artística, incluindo a chamada carborundum – na qual, em vez de entalhar o metal, o gravador acrescenta à chapa uma liga metálica, criando relevos –, durante 60 anos de trabalho Miró realizou múltiplas experiências na área. A Dupin ele comentou que, assim como as ferramentas tradicionais, também usava um prego, o dedo ou uma chave de fenda para imprimir suas idéias. Igualmente tinha se libertado das formas tradicionais de papel empregadas neste tipo de trabalho.

O jornal é uma prova clara de sua rebeldia artística. Trata-se de uma belíssima gravura impressa sobre uma prosaica folha de jornal com anúncios e notícias. Interior e noite, produzida em cima de papel pintado, chama a atenção pela mescla de técnicas. O sonho das pimentas doces se destaca pela importância histórica. A água-forte de 1981 é um de seus últimos trabalhos. Foi executada pelo artista quando tinha 88 anos, em seu ateliê da ilha espanhola de Maiorca, onde ele morreu aos 90 anos.