O engenheiro Hugo Quiroga, 56 anos, só encontra a neta Bruna, de dois anos e meio, a cada 15 dias. Filha de pais divorciados, a garota mora com a mãe no Rio. Quiroga vive e trabalha em São Paulo, mas isso não significa que eles não se vejam quase todos os dias, como se morassem no mesmo bairro. Já virou rotina ambos sentarem-se em frente a pequenas câmeras plugadas a PCs conectados à internet e conversar ao mesmo tempo que um vê a imagem do outro numa transmissão ao vivo, embora sem a qualidade da televisão. A garota aproveita as conversas visuais com o avô paterno para mostrar os trabalhos que fez na escola ou exibir roupas e brinquedos que ganhou. Quando está animada, dança na frente da pequena câmara enquanto o avô coruja baba a 400 quilômetros de distância. “É muito emocionante ter esse contato com minha neta”, derrete-se Quiroga. Quando Bruna está em São Paulo, junto do avô, ela continua usando a câmera para matar saudades, desta vez da mãe que ficou no Rio.

Ligadas na saída da impressora ou em conectores especiais chamados USB, mais velozes no envio de imagens, as câmeras são fáceis de usar. É necessário apenas que os interlocutores tenham o mesmo programa de videoconferência instalado em suas máquinas. Alguns, como o NetMeeting da Microsoft, são gratuitos. As câmeras mais atuais também servem para bater fotografias digitais quando desconectadas do computador. As máquinas, que não precisam ser do mesmo modelo ou fabricante para falar entre si, custam a partir de R$ 140.

No caso do engenheiro santista Gustavo Alonso, o investimento gerou economia. Alonso instalou uma câmera no PC de sua mãe, a bancária Vera, antes de se mudar para Wolssburg, cidade onde vive, na Alemanha. “Só uso o telefone para recados rápidos ou para pedir para minha mãe se ligar na internet”, diz. Em vez de pagar cerca de R$ 2,50 por minuto, preço médio de uma ligação entre a Alemanha e o Brasil, a mãe de Alonso gasta menos de R$ 0,30. “Só que a imagem vem meio picada”, reclama o engenheiro.

A baixa qualidade de transmissão ainda é o calcanhar-de-aquiles das câmeras para a web. A maioria dos fabricantes informa que suas máquinas capturam imagens em 30 quadros por segundo, a velocidade transmitida pela tevê. Na prática, em vez da imagem com qualidade de vídeo, as webcâmeras funcionam como se enviassem várias fotografias em sequência.

Nitidez – Existem maneiras de melhorar a imagem, desde que haja dinheiro, claro. O músico e publicitário Araken Leão, diretor do site de jogos Banana Games, desembolsou US$ 3 mil em uma câmera digital JVC para ligá-la diretamente à placa de captura de vídeo de seu computador. A imagem ganhou qualidade, uma condição para fazer reuniões virtuais nas quais discute detalhes técnicos sobre os jogos que compra de desenvolvedores de programas da Europa ou dos EUA. “A câmera já me ajudou a fechar muitos bons negócios”, diz Leão.

Não é preciso gastar tanto quanto Leão para começar a trocar imagens e som pela internet. Há desde opções baratas de câmeras para a web, como a Net Cam, da TCE (R$ 200), e a QuickCam Express, da Logitech (R$ 140), até novos modelos como a WebCam Go, da Creative (R$ 530), que serve também de câmera fotográfica portátil. Com 4 MB de memória, ela armazena até 90 fotos em resolução razoável para ver na tela do PC, ou 200 fotos com metade da qualidade gráfica. A SpyPen (caneta espiã), de US$ 160, é mais discreta. Com 12,5 cm de comprimento por 3 cm de largura, ela cabe no bolso quando desconectada do computador.

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Melhor e mais caro
Helcio Nagamine
É preciso ter dois aparelhos para poder comunicar-se

Quem quiser bater papo com os amigos com uma tremenda qualidade de imagem sem depender do computador ou da internet já tem uma boa opção tecnológica, mas precisa estar disposto a gastar muito. Recém-lançado no Brasil pela fabricante de monitores FEC, de Taiwan, o videofone é um aparelho tipo plugue e use: basta colocar na tomada de um telefone comum, ligar e abrir a tampa do monitor de cinco polegadas e lá está o interlocutor vendo e ouvindo você. O inconveniente é que ambos precisam ter o mesmo aparelho, que juntos custam R$ 9.900. Os gastos não param aí. É preciso ainda pagar pelos interurbanos e chamadas telefônicas internacionais feitas com o aparelho. Como toda novidade, o videofone já atraiu seus adeptos.
Um dos primeiros compradores foi o publicitário João Brito, dono da agência Ágape. “Meu filho e meus dois netos moram longe de São Paulo, na praia de Peruíbe. Foi uma maneira que encontrei para vê-los quase todos os dias. É divertido e mata a saudade”, diz ele. “Infelizmente, é caro demais.” Brito prevê que o preço caia assim que outras empresas entrem no mercado. É a mesma esperança dos representantes da FEC. A dentista mineira Juliana Pereira apostou na idéia. Ela e o pai, que mora no interior de Minas Gerais, compraram juntos um par. “Moro sozinha e assim nos falamos todos os dias, matamos saudades, fazemos piadas e muita careta!”, brinca a moça. Antes do videofone, ela tentou usar câmeras ligadas à internet, mas não aprovou. “A imagem é muito ruim, robotizada e sem foco”, argumenta. Se por enquanto o videofone só serve para matar saudade, pelo preço, deve continuar na lista dos sonhos de consumo.
Ângela Oliveira


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