Atrações turísticas à parte, as cantinas italianas costumam ser lugares onde comer bem é sempre sinônimo de divertimento. Não bastassem os garçons atrapalhados, que invariavelmente anotam os pedidos com uma piada na ponta da língua, estes barulhentos restaurantes são palco de uma fauna especialíssima. O Arturo al Portico de O jantar (La cena, Itália, 1998), em cartaz no Rio de Janeiro e em São Paulo a partir da sexta-feira 17, não foge à regra. Nascida da imaginação do cineasta Ettore Scola, a trattoria romana é uma festa. Entre os comensais, estão lá o velho experiente e solitário vivido por Vittorio Gassman numa de suas últimas aparições nas telas, posicionado estrategicamente na mesa preferida de pelo menos 15 anos. Há também o histérico professor de Filosofia defendido com habilidade por Giancarlo Giannini, às voltas com uma aluna adolescente apaixonada, o cozinheiro reclamão e uma infinidade de figuras que conquistam de cara pela doce e risível humanidade.

Especialista em centrar suas histórias espirituosas num único cenário e extrair do mínimo o máximo, Scolla repete aqui a fórmula de Um dia muito especial, quando num tour de force dramático encerrou Marcello Mastroianni e Sophia Loren num apartamento sombrio. Ele também já deu provas de maestria ao sintetizar a história da França no salão de danças de O baile e as transformações da sociedade italiana no casarão de A família. Em O jantar, o diretor de 69 anos salta de mesa em mesa acompanhando os pequenos casos dos seus engraçados, mas sempre nobres ocupantes. Volta e meia sua câmera avança pelos corredores, pelo toalete e pela cozinha, flagrando o que cada um tem a esconder. Como os personagens são muitos e a vida não é nada fácil, as situações se atropelam e não se desenvolvem como esperado. Mas até aí já se riu o suficiente.