ChinaEco_AFP_483x303.jpg

A turbulência na China afeta os mercados europeus e, em apenas poucas horas, os valores de mercado das empresas nas bolsas do Velho Continente perdem 400 bilhões de euros (cerca de R$ 1,6 trilhão).

As bolsas de Paris e Frankfurt registraram até meados do dia perdas de 4,6% e 4,4%, respectivamente. Enquanto o índice FTSE 100, com as maiores multinacionais do continente, atingiu uma queda superior a 4%.

O pânico nos mercados ocorre depois de a bolsa chinesa registrar o que já está sendo chamado de "Segunda-Feira Negra". Foi o pior resultado desde 2007, uma queda de 8,5%. O mercado financeiro asiático considerou a intervenção de Pequim na economia como insuficiente e, diante da desaceleração da economia local, o sentimento em todo o mundo é de que chegou o momento de se desfazer de ativos relacionados com a economia chinesa. Dezenas de empresas do setor de commodities e exportadoras passaram a ser afetadas. 
Os preços das commodities também atingiram seu menor nível no século XXI, afetadas pela crise na China.

Segundo o Índice Bloomberg, que compila os preços de 22 matérias-primas, os valores estão em seu nível mais baixo desde agosto de 1999. O principal motivo é a queda na demanda do maior mercado do mundo, a China, e que por mais de uma década garantiu a expansão dos preços. A expansão do PIB chinês em 2015 deve ser o menor em 25 anos.

De uma forma geral, o índice que inclui de ovos ao ouro perdeu 1,5% na segunda-feira, atingindo US$ 86,49. A baixa foi aprofundada diante de declarações do governo iraniano de que iria voltar ao mercado sem um acordo para limitar a produção com a Arábia Saudita. Na segunda-feira, o índice estava 40% abaixo de seus níveis de 2012 e acumulava uma queda de 17% apenas em 2015.

O resultado foi uma queda de 2,7% do barril de petróleo, para um total de US$ 44,24 nas bolsas europeias, o menor valor desde 2009 e distante do recorde de US$ 114 de 2014. Em Londres, o preço do cobre caiu em 2,6% para atingir seu menor valor desde 2009 e a produção hoje já é bastante superior à demanda mundial. As estimativas são de que, entre janeiro e junho, 151 mil toneladas de cobre foram produzidos além da demanda. Até o ouro, considerado como refúgio em qualquer tipo de crise, sofreu ontem uma queda de 0,4%.

Agricultura. No setor agrícola, a queda já vem alarmando o segmento há meses. Já na semana passada, o preço do milho foi registrado em apenas metade do que atingiu em 2012. Nos EUA, a Universidade de Minnesota indicou que a renda dos fazendeiros passou de US$ 175 mil por ano em 2012 para apenas US$ 55 mil em 2014. Os dados foram confirmados também por levantamentos realizados pelo Federal Reserve Bank.

Para 2015, a projeção do Departamento de Agricultura é de que a renda média do fazendeiro americano seja a menor desde 2009, com uma queda de 32% e somando em todo o país cerca de US$ 74 bilhões.

Empresas de diversas partes do mundo também começam a ser afetadas pela queda nos preços no campo. A Deere & Co, produtora de equipamentos, registrou queda de 30% na renda nos seis primeiros meses do ano. Archer Daniels Midland, Bunge e Cargill registraram resultados abaixo do esperado. "O ambiente econômico continua afetado em muitos mercados emergentes onde investimos de forma pesada nos últimos anos", admitiu o CEO da Cargill, David MacLennan.

No segundo trimestre do ano, a Bunge registrou uma queda de 70% em seus lucros, em parte por conta da economia brasileira. Segundo a empresa, os resultados foram consequência de uma "pressão dramática" sofrida no Brasil e, no mundo, as vendas registraram uma queda de 35,8%.

Outras commodities. No setor de minérios, ações de dezenas de empresas também sofreram, como a gigante BHP Billiton. A companhia perdeu 5,2% em apenas um dia e atingiu seu menor valor desde 2008.

Na Glencore, na Suíça, a empresa fechou o primeiro semestre com queda de 29% nas vendas diante da redução dos preços do alumínio, niquel e outras matérias-primas. A renda da companhia foi reduzida e as ações tiveram uma desvalorização de mais de 50% desde o ano passado. A fortuna de seu dono, Ivan Glasenberg, foi reduzida em um terço, para cerca de 2 bilhões de libras esterlinas.

A queda também repercutiu nas moedas de países com forte dependência na venda de commodities. O dólar canadense, o rublo russo e o Rand da África do Sul foram alvos de quedas importantes.