Às vezes eles são chamados de “crianças com validade vencida”, mas não se importam. Com 20, 30, 40 anos ou mais, conservam, com orgulho, a disposição para a brincadeira. A exemplo do que acontece nos Estados Unidos e na Europa, vários adultos estão usando o patinete para se divertir e até como meio de transporte. No Rio de Janeiro, ninguém se preocupa mais em fingir que está apenas dando uma voltinha no brinquedo do filho. “As pessoas acham curioso. É um misto de censura e inveja”, diz o microempresário Eduardo Miranda, 50 anos. E completa: “Não tô nem aí. Daqui a pouco, tenho certeza, muitos vão me imitar.” Miranda tem o hábito de ir ao centro da cidade com seu patinete no porta-malas.

Ele deixa o carro no estacionamento e resolve todos os problemas patinetando pelas ruas. Nos fins de semana, brinca na praia de Ipanema. De tanto ser abordado para falar sobre a aventura, ele resolveu ganhar dinheiro com a diversão. Inventou um modelo colorido de fibra de vidro com guidão adequado para peso e altura de gente grande. Um sucesso, vendido por Miranda sob encomenda.

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Modelos A Sundown lançou a linha Sandy & Jr., com versão para jovens e crianças

Ele não é o único a perceber aí um bom mercado. A Sundown, marca da Companhia Brasileira de Bicicletas – uma das maiores fabricantes desse veículo na América Latina – está lançando a linha Sandy & Jr. com versões para crianças e adultos. O novo patinete, de aço ou alumínio, suporta até 115 kg de peso, tem guidão com altura regulável e custa entre R$ 99 e R$ 170. A empresa, que pretende produzir 250 mil unidades para o próximo verão, se amparou em dados do IBGE para investir no produto. A população jovem do Brasil é de aproximadamente 72 milhões e, desse bolo, 9,8% são consumidores ávidos por modismos. Aos 63 anos, no entanto, Marly Pereira tem tudo para ser uma das adeptas do brinquedinho. Ela costuma andar no patinete dos netos, Regina, dez anos, e Danilo, oito, em locais públicos ou no playground do prédio onde mora. Para Marly, isso não é nenhuma proeza. “É só manter o equilíbrio, controlar a velocidade e, de preferência, estar em chão liso”, ensina. Felicidade, para Marly é deixar os cabelos brancos ao vento e relembrar as brincadeiras da infância. Apesar do espírito jovial, ela adoraria ter um modelo feito especialmente para “quem já passou de certa idade”, por uma questão de segurança.

Carlos Magno
Fã do brinquedo, Miranda criou um modelo com guidão adequado para adultos

Recordar os tempos de criança é um forte apelo para que adultos se atrevam a deslizar sobre as duas rodinhas de silicone. “No meu tempo, o patinete era de madeira e as rodas de rolimã. Mas era tão divertido quanto o de hoje”, diz a produtora de shows Cely Terra, 42 anos. Ela divide com a filha, Jéssica, nove anos, a propriedade do patinete, mas pretende comprar em breve um mais adequado. Quem também se aproveita da diversão são os poodles Faith e Fluke, que correm atrás do patinete pela Lagoa Rodrigo de Freitas afora. Maria Cláudia Cardoso Pinto, mãe de dois filhos de 11 e 14 anos, já conquistou a independência: “Tenho o meu próprio patinete. Compramos em Nova York. Lá todo mundo usa.” Além de fazer bem ao espírito com a diversão que proporciona, o patinete também ajuda a cuidar da saúde. Segundo André Galvão, presidente da Associação Brasileira de Personal Trainer, uma hora de uso por dia pode queimar entre 300 a 450 calorias, dependendo, obviamente, do condicionamento físico, da idade e do sexo. Está aí um argumento para convencer qualquer adulto sério.