A denúncia do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, contra o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), foi a melhor notícia do ano para o Palácio do Planalto. Agora, acossado por uma peça que pede nada menos que 184 anos de prisão e a devolução de US$ 80 milhões aos cofres públicos, Cunha perde a legitimidade para propor uma eventual ação de impeachment contra Dilma Rousseff. Qualquer movimento que faça nessa direção soará como retaliação e vingança.

Dilma virou o jogo, mas ainda não venceu a partida. Isso porque a oposição não desistiu de tentar afastá-la e já tem até uma estratégia desenhada. Os pedidos de afastamento serão rejeitados por Cunha, mas irão a voto no plenário. Segundo as contas dos oposicionistas, eles têm hoje 170 votos dos 342 necessários. Ou seja: faltam ainda 172, mas isso não significa que o Palácio do Planalto deva se descuidar. Mais do que nunca, será preciso ter uma boa e eficiente articulação política.

É aí que o jogo se torna mais complexo. Na semana passada, o vice-presidente Michel Temer emitiu sinais de que pretende deixar essa função, depois de uma vitória importante para o ajuste fiscal: a aprovação, no Senado, do fim das desonerações fiscais sobre a folha de pagamento das empresas. Temer alega já ter cumprido sua missão, mas o fato é que começa a se preservar como eventual pólo de poder, no momento em que o PSDB lança pontes em sua direção.

Na semana passada, os tucanos tentaram unificar seu discurso. Oficialmente, desistiram da tese de novas eleições, mas continuaram a defender o impeachment. Ou seja: sinalizaram que darão apoio a um eventual governo Temer, o que interessa, sobretudo, ao senador José Serra (PSDB-SP), que sonha em ser ministro da Fazenda num projeto de ‘salvação nacional’.

O Palácio do Planalto terá agora que reconstruir as pontes com os aliados, inclusive do PMDB, que, em condições normais, tendem a preferir o certo (Dilma) ao duvidoso (Temer). Os sinais mais importantes virão na reforma ministerial e nas articulações para a sucessão de Cunha. Se o governo se mostrar disposto a buscar um nome da uma ala do PMDB disposta ao diálogo, já terá sido um bom começo e um sinal de que o Palácio do Planalto aprendeu a lição.

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