O vice-presidente Michel Temer bem que tentou se colocar como o personagem capaz de unificar o País, mas quem realmente teve senso de oportunidade foi o presidente do Congresso Nacional, senador Renan Calheiros (PMDB-AL). Ao apresentar um conjunto de propostas batizado de ‘Agenda Brasil’, que passam por eixos estratégicos como a desburocratização, a estabilidade fiscal, a proteção social e a geração de investimentos em infraestrutura, ele descortinou um novo horizonte para o País, que vai muito além da discussão imediatista sobre se deve ou não haver impeachment.

O maior mérito dessa agenda foi dar coerência a ideias e propostas que já germinam aqui e ali, mas que não haviam sido empacotadas de forma lógica e racional. O capítulo mais importante enfrenta a questão fiscal com medidas que podem gerar receitas a curto prazo, como a segurança jurídica para a repatriação de capitais, e outras que visam à solvência de longo prazo da economia brasileira, como o aumento da idade mínima para aposentadoria. Na semana em que o Brasil ganhou um prazo maior da agência Moody’s para preservar seu grau de investimento, uma sinalização do Senado no rumo da responsabilidade fiscal faz toda a diferença – especialmente após as “pautas-bomba” da Câmara dos Deputados.

Outro aspecto positivo da Agenda Brasil é a ênfase em infraestrutura, agora que as principais construtoras brasileiras estão paralisadas não apenas pelos escândalos de corrupção, mas também pela ausência de novos projetos. Regras claras e estáveis certamente contribuirão para a retomada das concessões. Além disso, a agenda contempla até aspectos microeconômicos, mas que podem gerar benefícios econômicos imediatos. Um exemplo: o fim das exigências de vistos para estrangeiros, no momento em que o Brasil se prepara para grandes eventos, como a Rio 2016, e o real desvalorizado favorece a vinda de turistas.

O maior efeito colateral, no entanto, se deu na política. Com uma pauta construtiva, que vai ao encontro dos interesses empresariais, Renan demonstrou que há um caminho para a retomada da governabilidade, que dará ao governo Dilma condições de retomar um diálogo com o Legislativo em torno de princípios – e não de cargos, como era a regra no tempo da “velha política”. Não por acaso, o Palácio do Planalto abraçou as propostas apresentadas por Renan e, logo em seguida, o ministro Joaquim Levy, da Fazenda, anunciou a criação de uma comissão especial para fazer com que os temas avancem e sejam aprimorados.

A construção dessa agenda também só foi possível em razão da nova relação entre os poderes Executivo e Legislativo, marcada pela independência. No Brasil de hoje, que se converteu em sociedade aberta e transparente, a ocupação predatória do Estado se inviabilizou. Renan enxergou o fenômeno e, rapidamente, se reinventou como ator político. Com sua agenda, o Brasil começou a sair do atoleiro. 

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