Mais da metade dos adultos roncam. Além do incômodo sentido por quem ronca e por quem dorme ao lado, o ronco pode ser sinal da existência de apneia do sono (interrupção recorrente da respiração durante o sono). O problema está associado ao aumento do risco para enfermidades cardiovasculares por causa das alterações metabólicas e nervosas que pode ocasionar. Um tratamento criado por pesquisadores do Instituto do Coração (InCor), em São Paulo, oferece uma solução simples para reduzir bastante o barulho e ajudar a evitar as paradas respiratórias intermitentes. De acordo com os cientistas, a terapia diminuiu a freqüência do ronco em 36% e sua potência, em 60%. Artigo descrevendo o trabalho brasileiro foi publicado na revista científica CHEST.

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O ronco é o som provocado pela vibração dos tecidos da faringe durante a passagem de ar. Entre suas causas estão características fisiológicas (a garganta humana é bem estreita), o acúmulo de gordura no pescoço, que obstrui ainda mais a passagem de ar, e o envelhecimento, quando a musculatura da região fica mais flácida.

A terapia desenvolvida no Laboratório do Sono do InCor consiste na realização, três vezes por dia, de seis exercícios indicados para fortalecer os músculos (leia mais no quadro). Teve como base outra técnica, formulada no instituto pela fonoaudióloga Kátia Guimarães para tratar apneia do sono de grau moderado. Sua principal vantagem em relação à anterior é a de ser mais simples de ser seguida, aumentando a adesão dos pacientes. “É preciso disciplina para seguir o tratamento”, afirma o pneumologista Geraldo Lorenzi Filho, orientador do trabalho, conduzido pela fonoaudióloga Vanessa Ieto. “Mas até hoje não havia registro científico de um tratamento que associasse eficácia e facilidade para ser adotada pelo paciente.” Os exercícios devem ser realizados junto às atividades cotidianas, como no caminho de casa para o trabalho.

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CUIDADO
O médico Lorenzi Filho recomenda que o paciente se submeta a uma
avaliação especializada antes de iniciar a terapia

O desenvolvimento do método e a medição de sua eficácia foram possíveis após a criação de um aparelho capaz de medir o ronco. O “roncômetro” é uma invenção resultante da parceria entre o InCor e o Instituto de Física da Universidade de São Paulo. O equipamento grava o som e fornece sua freqüência e intensidade. “Este recurso permitiu que tivéssemos uma medida objetiva do ronco”, explica Lorenzi Filho.

A terapia foi testada em 39 pacientes com idade entre 20 e 65 anos. Depois de passarem pelo exame do ronco e por uma polissonografia (indicado para detectar distúrbios do sono), eles foram divididos em três grupos. O primeiro foi composto por portadores de ronco primário. Os outros dois tiveram a participação de pacientes com ronco associado à apneia do sono de grau leve e de grau moderado.

Parte dos voluntários submeteu-se à terapia do InCor. O restante seguiu um tratamento baseado em exercícios respiratórios e uso de dilatador nasal. Além da eficiência no controle do som emitido durante a noite, aqueles que seguiram o sistema da instituição paulista apresentaram uma redução na circunferência do pescoço.

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DESCANSO
Francisco agora dorme tranquilo. Ele ronca bem menos depois de executar os exercícios

O gerente de restaurante Francisco José Loureiro da Silva, 49 anos, de São Paulo, foi um dos seguiu a técnica. Ele roncava e tinha apneia do sono em grau moderado. Demorou três anos, mas hoje ele diz que a intensidade e freqüência de seu ronco caíram 80% e que não tem mais a respiração interrompida enquanto dorme. “Tinha uma sensação de sufocamento à noite. Mas isso acabou”, conta. “E o tratamento também foi um alívio para minha esposa, que agora dorme tranqüila ao meu lado.”

Porém, os exercícios são eficientes apenas para tratar ronco primário e apneia leves e, no máximo, moderadas. “Ele não é a panaceia para tudo”, ressalva Lorenzi Filho. O especialista recomenda que, antes de iniciar a terapia, o paciente procure uma avaliação especializada. “O ronco pode ser sintoma de algo mais grave. Por isso a necessidade de buscar ajuda”, diz.

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Fotos; Shutterstock; Airam Abel