Em meio à crise político-econômica que vive o País, a oposição encontra dificuldades para alcançar a unidade interna e convergir em torno de caminhos que possam tirar o Brasil do atoleiro. Um raro momento de união ocorreu na segunda-feira 10, no Recife. Durante as homenagens pelo um ano da morte de Eduardo Campos, os tucanos Aécio Neves e Geraldo Alckmin e a ex-candidata a presidente pelo PSB, Marina Silva, demonstraram estar afinados nas críticas ao governo Dilma. Ao discursar, Marina Silva retomou o tom contundente adotado durante boa parte da campanha presidencial. “Nós dizíamos que o País estava à beira de uma crise. Mas naquele momento disseram que estávamos errados. Hoje se vê que a crise é muito maior”, afirmou. Depois de elogiar o amigo Eduardo Campos e repetir o bordão criado pelo ex-político do PSB “Não vamos desistir do Brasil”, Aécio lamentou o descalabro administrativo do governo Dilma e os desvios éticos cometidos reiteradamente pelo PT. “Errar faz parte da vida, mas o Partido dos Trabalhadores é incapaz de assumir seus erros”, criticou. Embora num tom mais moderado, Alckmin também apontou as baterias para o governo. “Não se pode responsabilizar os outros pelos seus problemas. A primeira questão para você resolver um problema é você reconhecê-lo”, disse. Embora, pelo semblante e gestual, a ex-primeira dama Renata Campos parecesse concordar com Aécio, Marina e Alckmin, ela limitou-se, em seu discurso, a agradecer o apoio que sua família vem recebendo nos últimos meses. Além dela, o advogado Antônio Campos (irmão), e os filhos Maria Eduarda, João, Pedro, José e Miguel, participaram do ato.

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A cena observada durante o evento em homenagem a Campos, lamentavelmente, não se repete no dia a dia da política nacional. Nas últimas semanas, durante as discussões sobre o pós-Dilma, Aécio e Alckmin apresentaram soluções distintas para o País. Enquanto Aécio defende a bandeira das novas eleições, para ele a única legítima em caso de impeachment da presidente, Alckmin integra a ala tucana favorável a uma saída via o vice Michel Temer – isto se houver novos elementos que justifiquem o processo de impedimento de Dilma. “Por enquanto precisamos investigar, investigar e investigar. A questão do impeachment não está colocada ainda”, afirmou o governador de São Paulo. A ideóloga da Rede, partido que ainda não saiu do papel, pensa semelhante a Alckmin. Para Marina, “não se deve trocar a presidente por gostar ou não dela”. “Não podemos, em hipótese alguma, colocar em xeque o investimento que fizemos na democracia”. Outra demonstração de que os opositores a Dilma não andam falando a mesma língua é o comportamento deles em relação à manifestação pelo “Fora Dilma” deste domingo 16. Enquanto Aécio marcará presença, ao lado de líderes do DEM, como o senador Ronaldo Caiado (GO), Alckmin e Marina não devem passar nem perto dos protestos. Um racha na oposição, na atual circunstância política, indica um péssimo sinal: o de que projetos pessoais possam estar acima dos interesses do País. A sociedade espera que essa constatação não passe de mera impressão.

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Fotos: Diego Herculano/Folhapress