A medicina e a tecnologia fizeram mais uma boa parceria. Os consultórios estão incorporando aos poucos a fotodermatoscopia, uma versão moderna da dermatoscopia, exame clínico que indica se uma pinta na pele é perigosa, com potencial para se transformar em um tumor. Os equipamentos utilizados nessa avaliação fotografam as lesões cutâneas, que são ampliadas por uma lente especial. As imagens são agregadas em um banco de dados e o especialista pode fazer um mapeamento dos sinais espalhados pelo corpo do paciente. Com isso, o diagnóstico de melanoma, o tumor de pele mais agressivo, torna-se mais preciso.

A fotodermatoscopia junta câmera fotográfica e dermatoscópio, ferramenta ainda bastante usada pelos dermatologistas para o exame das lesões cutâneas a olho nu. “O aparelho aumentou em 93% a eficácia do exame”, afirma o médico Guilherme de Almeida, do Grupo Brasileiro de Melanoma, entidade médica multidisciplinar que estuda o tumor. O equipamento permite fotografar a pinta com nitidez, facilitando a visualização de detalhes de formato e cor, algumas das características que determinam o quanto o sinal é perigoso. O especialista que usa apenas o dermatoscópio tem mais dificuldade de comparar a evolução das lesões, já que não dispõe de imagens para consultar. “O exame tradicional não é tão eficaz para lesões pequenas. Como o melanoma em fase inicial é difícil de ser reconhecido, muitos sinais são retirados com o objetivo de prevenção”, explica Francisco Macedo Paschoal, dermatologista de São Paulo. A aplicação da fotodermatoscopia, no entanto, evita a extirpação desnecessária de pintas.

No Brasil, já é possível encontrar um equipamento ainda mais sofisticado do que o fotodermatoscópio. Trata-se do photofinder, encontrado em dois consultórios de São Paulo e em um de Manaus. Paschoal, um dos fundadores do Grupo Brasileiro de Melanoma, foi o primeiro a utilizar o novo aparelho, que emprega câmera fotográfica digital, placa para digitalizar imagens e um software especial para análise de pintas e manutenção de um banco de dados com as fotos das lesões. Ele usou a novidade – que custa cerca de US$ 7 mil – em 40 pacientes. “A grande vantagem do photofinder é seu zoom. Na fotodermatoscopia, a lesão é aumentada dez vezes. Na versão digital, a ampliação é de 20 a 60 vezes”, completa o médico.

Luz interna no estômago

Está em teste no Reino Unido um tipo de endoscopia capaz de identificar com mais facilidade tumores no sistema digestivo. Um projeto feito pelas universidades de Glasgow, Saint Andrews e Dundee desenvolveu uma técnica baseada no uso de raios ultravioleta que permite a detecção de câncer em fase inicial, o que aumenta as chances de cura da doença. Pelo método, o paciente ingere uma droga, feita com base no aminoácido ALA, um dos envolvidos na produção de hemoglobina (partícula do sangue que carrega o oxigênio). Metabolizada, a substância é transformada na proteína PpIX, que se acumula em células cancerosas. A PpIX apresenta uma fluorescência vermelha incapaz de ser vista a olho nu. Quatro horas depois da ingestão do ALA, é possível fazer a endoscopia com aparelho dotado de luz violeta. Esses raios sensibilizam a proteína, cuja tonalidade se intensifica. O sistema usa duas câmeras: uma com cores normais e outra que capta imagens de fluorescência. Dessa forma, as células modificadas ficam visíveis. A previsão é de que o exame esteja disponível no Reino Unido em um ano.