O ex-ministro do Planejamento João Sayad, confirmado na quinta-feira 9 como o secretário de Finanças e Desenvolvimento Econômico do governo Marta Suplicy, terá missão de super-herói: desarmar as bombas deixadas pelo governo de Celso Pitta e sinalizar para a elite financeira, dentro e fora do País, que é possível ser governo e do PT. Tão logo anunciado, já foi desativando explosivos. Avisou que não haverá moratória e que a renegociação da dívida do município, de R$ 18 bilhões, não é prioridade da prefeita eleita. Sayad, que estava no Ministério do Planejamento do governo Sarney quando o então ministro da Fazenda Dilson Funaro detonou a moratória da dívida externa, 13 anos depois mantém a mesma posição: “Não fazer pagamentos é um ato, de certa forma, não civilizado.” A difícil situação em que se encontra a Prefeitura de São Paulo está tirando o sono do economista, um dos formuladores do Plano Cruzado, afastado da vida pública desde 1987. Em entrevista a ISTOÉ, falou de seus planos e deixou claro que o buraco nas contas não o desestimula a enfrentar o desafio dos números e, muito menos, o de arrumar e gerenciar as verbas para os projetos sociais da prefeitura, entre eles o Renda Mínima e o Banco do Povo. Segundo projeções, os projetos sociais custarão cerca de R$ 260 milhões e não estão contemplados no Orçamento de R$ 7,9 bilhões que está sendo votado na Câmara.

Perguntado como é pertencer a um governo do PT, disse sorrindo: “Sou um calouro, estou curioso e animado.” Em seguida, revela ter amigos na legenda. “Compartilhamos da crítica aos neoliberais. São pessoas honestas, bem-intencionadas, capazes. É uma experiência nova. Nunca trabalhei num governo do PT. Tenho uma expectativa muito positiva.” Sócio do Banco Inter American Express, o banqueiro – que se afastará do cargo em janeiro – é também professor da USP e um duro crítico da política econômica de FHC.

Ao anunciar o supersecretário, a prefeita eleita ressaltou que a posição ideológica de Sayad pode não ter total afinidade com a legenda. “O PT não faz mais restrições a empresários. Hoje, se beneficia da experiência e do saber acumulado nessa área, temida pelo partido até pouco tempo atrás”, afirmou Marta. Sayad, ainda filiado ao PMDB, está preparado para enfrentar a reação do governo federal. “Não espero tratamento favorável. Não falaremos com o governo ou com a equipe econômica como ex-companheiros”, numa referência a FHC e seus ministros.

A bomba-relógio a ser desarmada é de alta potência. Faltam R$ 312 milhões para fechar as contas de 2001, segundo os cálculos feitos até agora. A receita prevista no Orçamento é de R$ 7,9 bilhões, mas será necessário desembolsar 8,2 bilhões para pagar dívidas, pessoal e serviços terceirizados. Menina dos olhos do PT, o Renda Mínima, por exemplo, recebeu uma migalha: R$ 500 mil contra R$ 74 milhões do ano passado, totalmente remanejados para outros projetos.

Sayad diz que as saídas não são muitas. Pretende atacar em duas frentes: aumentar a arrecadação e reduzir os gastos, revendo contratos, cortando gorduras. “Não conseguiremos fazer mágica. Temos de buscar recursos a fundo perdido, se é que existem. Vamos ver que limonada a gente consegue fazer com esse meio limão.” Ao contrário das especulações, o supersecretário assegura: “Conversei com a prefeita e renegociar a dívida não é a prioridade do momento.” Segundo o ex-ministro, os problemas são os restos a pagar (cerca de R$ 1,8 bilhão) e o orçamento inadequado.

Sayad não aprova na totalidade a Lei de Responsabilidade Fiscal. De positivo, aponta a contenção de dívidas de curto prazo. Mas com relação às dívidas de longo prazo, exemplifica: “É como trancar o ladrão, a vítima e o secretário de polícia na mesma casa.” Animado com o desafio, ele brinca: “O governo de esquerda entra para limpar a dívida dos governos de direita e depois ainda leva a fama de nada ter feito. Foi assim com Montoro, que sucedeu Paulo Maluf, e está sendo assim agora.” Sayad, que foi secretário de Fazenda do governo Montoro, continua firme na defesa da presença atuante do Estado para gerir o social: “Sem dúvida. Acho que nem os neoliberais pensam o contrário. Eles venderam tudo para concentrar no social, não foi? (risos).” 

Colaboraram: Florência Costa e Juliana Vilas

Ajuda externa
André Dusek
Costin, do Bird, vai receber Marta

Marta Suplicy inicia na quinta-feira 14 uma corrida por recursos e parcerias para que o impacto do rombo não jogue na inércia os primeiros meses de administração e não engesse seus projetos sociais. Marta, aconselhada pelo supersecretário de Finanças e Desenvolvimento Econômico, João Sayad, a buscar recursos para projetos prioritários, estará em Washington (EUA) nos dias 14 e 15. Ela vai se reunir com a ex-ministra da Administração do governo FHC e atual consultora do Banco Mundial (Bird) Cláudia Costin. Este será o seu primeiro contato com a entidade. Cláudia adiantou a ISTOÉ que, a pedido de Marta, os temas discutidos serão: gestão pública, combate à corrupção, educação e drenagem.

“Acredito que a visita da prefeita ao Banco Mundial demonstra sua disposição e interesse em estabelecer, desde cedo, um diálogo com as instituições multilaterais e identificar áreas de apoio e colaboração”, afirmou. Segundo a ex-ministra, serão trocadas informações e idéias sobre a visão de governo de Marta e sobre o trabalho do banco em diversas áreas.

A importância de São Paulo para o Brasil e para a América do Sul, somada às prioridades que o Banco Mundial atribui aos problemas urbanos, é determinante para entendimentos futuros na busca por recursos. “Existe um potencial de colaboração entre o banco e o município. Ainda não podem ser antecipados projetos específicos ou recursos a eles associados, trata-se de um primeiro contato.” Cláudia ressaltou que alguns projetos e estudos já existentes envolvendo a Prefeitura de São Paulo serão apresentados e debatidos com a prefeita eleita.