Entre uma reunião e outra com clientes, o analista de sistemas paulista Jefferson Midei, 27 anos, costuma correr atrás de uma linha telefônica para conectar seu computador portátil à internet. Seu trabalho de consultoria depende muito dos cerca de mil e-mails que ele recebe diariamente. Há três meses, sua rotina ficou mais fácil. Midei carrega a solução no bolso da camisa: um celular conectado à internet, com o qual consegue ler e-mails, notícias, além de consultar sua agenda eletrônica e os compromissos do dia. Quando se perde no trânsito a caminho de algum cliente, ele se livra de apertos sacando o telefone celular da cintura. Conecta-se à web, digita onde está, aonde quer chegar e pronto: a rota detalhada aparece na pequena tela do aparelho. “Agora estou sempre ligado ao escritório”, comemora Midei. À noite, na faculdade de Teologia onde estuda, ele deixa os negócios de lado e usa o celular para pesquisar o texto integral da Bíblia, que não precisa mais carregar na pasta 007.

Max G Pinto

TECLADO é o opcional da Ericsson para facilitar a digitação

Acessar a internet via celular não requer habilidade técnica. Antes de tudo, é preciso que o aparelho possua um mininavegador wap (sigla em inglês para internet sem fio), exatamente como os programas Netscape e Explorer, que permitem a navegação na internet a partir de um PC. Os primeiros aparelhos wap surgiram no Brasil em julho deste ano, mas estavam disponíveis somente para operadoras que trabalham com a tecnologia de transmissão digital chamada CDMA (Acesso Múltiplo por Divisão de Código). Por isso, tinham acesso à novidade apenas cinco milhões de usuários divididos entre as operadoras Telesp Celular (São Paulo), Telefônica Celular (Rio de Janeiro, Vitória, Bahia e Sergipe) e Global Telecom (Paraná e Santa Catarina). Os primeiros celulares wap de operadoras que usam o sistema TDMA (Acesso Múltiplo por Divisão de Tempo) estarão disponíveis para mais de 12 milhões de clientes nas próximas semanas. É o caso do modelo R278d da Ericsson, que traz como acessório opcional um pequeno teclado para facilitar a digitação de e-mails. Operadoras que usam o sistema TDMA, como a paulistana BCP e a mineira Telemig, só aguardam a chegada dos novos aparelhos com wap para enfim lançar seus serviços de acesso à internet.

Max G Pinto

FÁCIL Nokia 7160 acessa a web com ajuda de tecla que imita mouse

Restrições – Além de prover acesso à rede, a operadora também escolhe os sites por onde o usuário vai navegar. Como ainda é difícil a digitação do endereço de um site wap no teclado improvisado de um celular, a navegação fica praticamente restrita aos portais das operadoras de telefonia, que reúnem em um menu simplificado os serviços dos diversos parceiros. No portal da Telesp Celular, por exemplo, há a opção de enviar e receber e-mail, consultar a previsão do tempo ou as notícias de Folha, Estadão, Selig, do iG, Yahoo e ZipNet. Os serviços vão desde notícias, extrato e saldo bancário, guia de cinema, joguinhos como forca ou 21 e condições das praias para surfistas.

Max G Pinto

JOGO joystick simplifica a navegação no VoicerFashion da Samsung

É justamente esse o serviço preferido do paulista Fernando Casasco, 32 anos. Surfista desde os nove anos, toda semana ele troca o trânsito de São Paulo e seu cargo de gerente numa empresa de informática pela prancha. Certa vez, rodou 70 quilômetros entre o Guarujá, no litoral sul de São Paulo, até Maresias, no litoral norte, depois de ver no celular que ondas de 1,5 metro o esperavam. “Se eu não tivesse a certeza que o mar estava tão bom por lá, não teria rodado tanto”, diz.

Nem sempre o mar está para peixe, o que significa que o wap pode decepcionar os iniciantes na internet de bolso. A baixa velocidade de conexão permite apenas a transmissão de texto. Sites fora do ar, demora ou impossibilidade de conexão não são exclusividade da internet no PC. Tentativas frustradas de conexão também acontecem com o celular. “Tem que ter muita paciência”, diz o empresário Oscar Busi, que confere as cotações do dólar e das ações na Bolsa, checa como anda (ou não anda) o trânsito e, nos finais de semana, consulta o horário do cinema e dicas de restaurantes.

Max G Pinto

NO BOLSO Midei trocou laptop, agenda e Bíblia por celular que acessa internet

Outro problema do acesso à web pelo celular é o preço. Além de comprar um aparelho wap, o usuário desembolsa o valor de uma ligação comum – cerca de 40 centavos – para cada minuto plugado. “Minha conta subiu de R$ 150 para R$ 300”, reclama o empresário Busi.

Queixas à parte, as operadoras apostam alto na tecnologia. “Em 2003, a transmissão de dados pode chegar a 30% da utilização dos celulares”, projeta Abílio Ançã Henriques, presidente da Telesp Celular. “Até meio
do ano que vem, estaremos comprando ingressos de cinema, de futebol e apostando na loteria pelo
celular”, prevê Aderbal Pereira, diretor de assuntos corporativos da Ericsson.