A advogada Solange Antunes Resende, amiga, sócia e ex-superassessora do ex-ministro da Defesa Élcio Álvares, estava convencida de que conseguira escapar ilesa das investigações sobre suas falcatruas e ligações com o crime organizado no Espírito Santo. Sua impunidade estava garantida pelo presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Carlos Veloso, que, em dezembro do ano passado, impediu que a CPI do Narcotráfico quebrasse os sigilos bancário, telefônico e fiscal dela e de seu irmão e sócio Dório Antunes. Doce ilusão. Na sexta-feira 17, a juíza da Vara da Fazenda Pública de Vitória, Gisele Nunes Oliveira, acolheu pedido do Ministério Público e tornou indisponíveis todos os bens de Solange por ter praticado atos de improbidade administrativa e falsidade ideológica. O processo se baseia na denúncia – publicada por ISTOÉ em dezembro passado – de que a sócia de Álvares acumulou cargos e salários na Prefeitura do município de Serra, no Senado e no Ministério da Defesa.

Funcionária fantasma, ela entrou na prefeitura a bordo de um trem da alegria para empregar membros e simpatizantes da Scuderie Le Cocq, sucedânea do esquadrão da morte. “Seus atos violaram os deveres de honestidade e legalidade e causaram prejuízo ao erário com enriquecimento ilícito”, escreveu o promotor Leonardo da Costa Barreto em sua petição contra Solange.

Leopoldo Silva

CHEFE Álvares: situação da amiga fica complicada

A amiga de Élcio Álvares também terá problemas na CPI do Narcotráfico. O relatório da Comissão, que começa a ser votado na próxima terça-feira, registra que, devido à proibição de Carlos Veloso, não foi possível investigar a fundo os sócios do escritório de Álvares. Mesmo assim, insiste na necessidade de abrir os sigilos dos irmãos Solange e Dório Antunes e recomenda ao Ministério Público e à OAB uma investigação sobre as ligações da firma do ex-ministro com o crime organizado. “O Supremo prejudicou as apurações, mas temos que tomar providências para evitar que isso resulte em impunidade”, diz o coordenador da CPI nas investigações no Espírito Santo, deputado Fernando Ferro (PT-PE).

ENRASCADA O Ministério Público pede a indisponibilidade dos bens de Solange Antunes: ex-assessora do Ministério da Defesa praticou atos de improbidade administrativa e falsidade ideológica

O relatório do deputado Moroni Torgan (PFL-CE) vai propor também a cassação pela Justiça Federal do mandato do presidente da Assembléia Legislativa, deputado José Carlos Gratz (PFL–ES), por seu envolvimento com a bandidagem capixaba. Gratz ainda está tentando virar o jogo com chantagem e ameaças. Prometeu como represália divulgar um dossiê contra o presidente da CPI, deputado Magno Malta (PTB-ES), na expectativa de que ele ainda lhe dê uma mãozinha para escapar da condenação da Comissão. “Tenho provas contra o Magno Malta”, diz.

Em seu estilo habitual, Gratz extrapolou: “Não há homem naquela CPI para se aproximar de mim e me acusar de narcotráfico. Se isso acontecer, vamos sair dessa palhaçada que é a própria CPI e partir para o lado pessoal. Aí vai virar guerra de sangue, caso de morte”, vociferou o dublê de deputado e banqueiro da jogatina. Além de Gratz, a CPI vai pedir a cassação de outros oito deputados estaduais – cinco deles de Alagoas – e do deputado federal acreano José Aleksandro (PFL).

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