A imagem de que a América Latina é a terra do café e a Ásia, do chá, está ruindo. De acordo com levantamento recém-divulgado pela consultoria alemã F.O. Licht, o Vietnã tornou-se neste ano o segundo maior produtor e exportador de café do mundo, superando a Colômbia. Agora, fica atrás apenas do Brasil. Indonésia e Índia também se colocam entre os líderes do mercado mundial. Os novos produtores têm-se aproveitado da preferência de grandes consumidores como EUA e Alemanha. Estes vêm procurando inviabilizar a tentativa dos fabricantes tradicionais, organizados na Associação dos Países Produtores de Café (APPC), de sustentar o preço do café através da limitação da produção.

Até a década de 80, as vendas e os preços do café eram negociados dentro da Organização Internacional do Café, que reunia fabricantes e consumidores. Em 1989, os EUA boicotaram o acordo, visando forçar a queda dos preços do produto. Conseguiram. Em países onde a produção se concentra em pequenas propriedades, como a Colômbia, muitos agricultores faliram – ou começaram a substituir o café por plantações de coca e papoula, que os EUA agora se esforçam para erradicar.

Os países produtores reagiram. Reorganizaram-se unilateralmente na APPC e hoje estão retendo 20% da produção, para tentar fazer com o café o que a Opep faz com o petróleo. Só que é muito mais fácil plantar café fora da APPC do que descobrir petróleo fora da Opep. Embora ainda represente 70% da produção mundial, a APPC está perdendo a queda-de-braço para o cartel dos compradores (quatro empresas compram 70% do café exportado em todo o mundo), que na maior parte do tempo tem conseguido comprar o produto a preços baixos, sem reduzir na mesma proporção o preço ao consumidor.

O Brasil ainda lidera com folga o mercado mundial, mas, neste ano, perdeu o primeiro lugar nas exportações para os EUA. Caiu para a quarta colocação, atrás de Colômbia, México e Guatemala. De janeiro a agosto de 2000, o Brasil forneceu apenas US$ 181 milhões ou 10,6% do total comprado pelos EUA, contra US$ 313 milhões ou 19,1% no mesmo período de 1999. Há muito nosso café deixou de ter o papel central que tinha na República Velha (1889-1930), mas em 1998 e 1999, ainda representou 4,6% das exportações, perdendo só para o minério de ferro. Este ano, o café desceu para o nono lugar na nossa pauta de exportações, representando apenas 2,8% do total. A queda foi suficiente para impedir que o Brasil conseguisse um saldo comercial positivo em 2000.

A produção do Vietnã passou de 1,5 milhão de sacas em 1990 para cinco milhões em 1996 e para dez milhões este ano e transformou-se na maior exportação do país, superando o arroz. A esperança dos cafeicultores é que o Vietnã, agora que está instalado na posição de grande produtor, cumpra a promessa de colaborar com a APPC também retendo parte de sua produção a partir deste final de ano.