O Ceará é famoso por ser a terra dos humoristas. Entre os nativos mais célebres estão Renato Aragão, Chico Anysio, Tom Cavalcante e também o cantor Falcão. A população orgulha-se de ser alegre, festeira e faz bagunça 24 horas por dia. Mas, em meio a esse carnaval permanente, empresários e estilistas promoveram um evento de moda sério, uma espécie de MorumbiFashion, de São Paulo ou Barra Fashion, do Rio. A segunda edição do Dragão Fashion, realizado entre os dias 7 e 10 deste mês, foi um exemplo de organização, arte, entretenimento e criatividade. O evento foi realizado no Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura. O nome é em homenagem a um pescador que liderou um movimento antiescravagista.

VENCEDORAS Roberta e Cristiane ganharam o prêmio revelação com fuxicos e rendas

No primeiro dia, uma assistente da produção recebeu os visitantes com um convite misterioso. “Depois dos desfiles, vamos todos para a bagaceira fazer comédia”, avisou a garota. “Na segunda cerveja, tudo vira possibilidade.” Traduzindo: bagaceira é ir para um bar azarar e dizer muita bobagem. Quando ela disse todos, foram todos mesmos. A estilista que abafou com seus modelos na passarela estava na farra. E a festa recomeçou. Para os cearences, menos de 40 pessoas numa mesa é deserto.

MODA NOITE O forte de Kalil Nepomuceno são as cores vibrantes e o brilho

Rendas – Durante os quatro dias, mais de 1.200 pessoas aplaudiram os desfiles. Além dos estilistas consagrados, os organizadores promoveram um concurso de novos talentos. Entre oito candidatos, ganhou uma dupla que promete. As irmãs Cristiane Arruda e Roberta Arruda escolheram o tema Rendas e fizeram um desfile surpreendente. Toalhas de mesa viraram belos vestidos de noite e biquínis de fuxicos e retalhos mereceram aplausos. Na mesma noite, Marúzia Fernandes, cearense radicada em São Paulo há 14 anos, não deixou para ninguém. Seus plissados, babados e tecidos queimados com ferro, enfeitam uma mulher cada vez mais feminina. Seu trabalho, conhecido e celebrado na última Semana de Moda, na capital paulista, mais uma vez se superou. Nem por isso, a doce Marúzia – também líder de uma campanha de doação de órgãos e mãe de quatro filhos – deixou de se lambuzar com a caranguejada no dia seguinte. “Trabalho demais”, diz Marúzia. “Não tenho tempo nem paciência para estrelismo.”

TEARES Carlos Capuchos abraçou as mulheres com mantas em forma de blusas e saias

A generosidade cearense, de fato, é maior do que as estrelas. Por essa razão, no dia seguinte, quarta-feira 8, o veterano cearense Carlos Capucho não parava de sorrir e abraçar amigos e colegas estilistas ao encerrar a noite com um belíssimo desfile. Mantas e teares, quase sem costura, abraçavam as mulheres em forma de blusas, saias e vestidos. Kalil Nepomuceno, outro nome a ser registrado e que deslumbrou a platéia com roupas abusadas em brilho e cores, fez questão de saudar o amigo.

Na quinta-feira, mais uma boa surpresa: a cearense de origem holandesa Iet Pleijter mostrou uma moda masculina bem prática. Bermudas ganharam bolsos enormes ou estranguladores nas barras. Outro destaque da moda masculina foi o niteroiense radicado em São Paulo Mário Queiroz, estilista e professor da Faculdade Anhembi-Morumbi e Faap. Na tarde anterior ao final do desfile, encheu o auditório do centro cultural Dragão com uma palestra que mesclou moda e comportamento ao longo das últimas décadas. Durante a conferência, fez referências à capa de ISTOÉ, que falava sobre o novo homem e o eterno machão. Para ele, o novo homem é moderno e corajoso o suficiente para usar uma camisa rosa e calçar uma sandália dourada, sem perder a masculinidade. Depois de uma chuva de confetes, ele festejou com quem quisesse a performance numa bagaceira cheia de possibilidades.