Da brejeirice dos primeiros tempos, em que com sua exuberância natural cantava alegrias e sensações regionais, até virar musa sexy e em seguida ser transmutada em musa brega com moldura chique, Fafá de Belém se firmou no olimpo da música brasileira conquistando fãs de diversas tendências. Mas nada como a maturidade para indicar, ou recolocar, o artista, a pessoa no caminho correto. E Fafá de Belém, aos 44 anos, reencontrou o seu. Com o lançamento de seu 21º álbum, Maria de Fátima Palha de Figueiredo, nome de batismo da cantora paraense, e com o apurado show Se o amor tivesse preço – que teve estréia nacional em São Paulo há duas semanas e no início de 2001 continua em excursão pelo País –, ela lapidou o repertório sem necessariamente se distanciar do estilo que a consagrou. Ou seja, a marca registrada da alegria está presente, mas ao se voltar para o clássico, resgatando ou regravando belas canções, foi como se Fafá fechasse um ciclo para finalmente sedimentar uma carreira de 25 anos.

Em 13 faixas do CD, a intérprete recorre ao romantismo de boleros esquecidos como Meu nome é ninguém, de Haroldo Barbosa e Luiz Reis, em belíssimo arranjo de cordas em compasso com a delicadeza de um piano e de uma bateria. Relembra Tito Madi na ótima Cansei de ilusões e ainda apresenta o compositor português Fernando Girão na dilacerante Nas flores pintei o teu nome. É um repertório de escolha criativa, apesar da “necessidade” de se recorrer à repisada Preciso aprender a ser só, de Marcos e Paulo Sérgio Valle. Parece incrível, mas a música continua funcionando como uma espécie de aval à sofisticação. Não era preciso. Mesmo porque, num arroubo de ousadia ela gravou Tortura de amor, do hiperbrega Waldick Soriano. Para quem o nome do compositor causa arrepios, é bom saber que Fafá de Belém deu à canção um toque inédito de beleza. Clássica e com um suave sabor nostálgico de antigas cantoras do rádio.